sexta-feira, 18 de abril de 2008

Em frente ao Fórum Ruy Barbosa, antes de São Miguel


O viciado me pede 50 centavos
Diz haver perdido o seu vale-transporte
Diz estar voltando de um tratamento dentário
Olho seus dentes escuros, sujos e corroídos pela pedra

Digo estar sem nenhum
Ele me pede 25 ou qualquer 10 centavos
Ratifico minha pão-durice
Diz, manhosamente, não ter como voltar para casa

Então lhe ofereço uma carona
Ele franze a testa, pára, pensa um pouco
Diz morar longe pra caralho, agradece e sai
Aborda um Coroa metros depois

Passam-se 5 minutos, chega a viciada
Adolescente, me chama de irmão
Diz estar grávida e morrendo de fome
Expõe a barriga inchada e cheia de cicatrizes

Digo estar sem nenhum
Ela diz que Deus me dará em dobro
Explico-lhe que não tenho mesmo
Se tivesse daria com satisfação

Pergunto com quantos meses o bebê está
Responde 3, diz ser o segundo
O primeiro ela abortou, pergunto sua idade
Ela responde 16 e corre para abordar uma Senhora

2 comentários:

Pablo disse...

já essa, pela força de impacto do tema, poderia ser uma poesia, como é.
Porém acredito que você poderia se esforçar para que a descrição não se prenda aos fatos e sim aos sentimentos, seus, delas, e de quem lê. As coisas que você sente quando vive coisas como essas são demasiado abundantes para não serem transmitidas. Claro que a transmissão de sentimentos é mais difícil que a informação de fatos chocantes em sí.
É como a diferença entre uma reportagem sobre a miséria urbana em meio ao carnaval baiano e a música "A Novidade" de gilberto gil. Os temas têm uma interseção, mas a forma é completamente distinta.
Porra descente, consegui emitir dois comentários críticos seguidos, já tava cansado de me limitar a elogiar sem conseguir me aprofundar.
abraço

Unknown disse...

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