terça-feira, 26 de agosto de 2008

Sou dos Raros


Eu sou dos loucos, destes imundos
Que vagam pelas ruas esbravejando insanidades;
E canções aos pássaros, outros que cantam sem motivo;
E mentiras aos políticos, outros que tagarelam falsos ideais;
E elogios às donzelas, outras que amam por amor;
E urros aos trabalhadores, outros que reivindicam o pão;
E silêncio aos covardes, outros que temem o próprio medo

Eu sou dos loucos e cultuo minha loucura
Hospiciu os outros nos olhos e transmito-lhes sangue-frio
Cultivo em mim um desespero, um destempero, um desalento
Brado ante o espelho embaçado no afã de assustar-me
Solto os cachorros, os urubus, as frangas, os cedros
Rumino noutros idiomas, balbucio dengos infantis
Recruto putas, mendigos, retardados, travestis

Eu sou dos loucos, pois sou ser sem sanidade
Não por falta de vontade, não por falta de remédio
Minha loucura deriva do tédio
Da prostração em que vivem meus meio-irmãos
Sou o motivo de suas gargalhadas e aborrecimentos
Sou aquele que busca um único momento
Para provar-lhes o quão loucos são

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