quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Caixa 2

(Autor: Dr. Tiago Pouillard Carneiro, ou melhor, KT)

Vejo-me eu, recém-formado, dentre uma corja de safados.
Dois empresários, um despachante, e eu no meio dos meliantes.
Mas já que é assim então formô. Você ta pronto ô seu dotô?
Pergunto então pro camarado: Questão jurídica ou cambalacho?
E bem na lata fui “aconselhado”: Faz melhor é quem fica calado!

Pois muito bem, vamos então. Mas sem demora, pra num atrasar não.
Saímos a tarde pela estrada. Uma maleta e muitas risadas.
Dirigindo bem, passou o caminhão. Mas é a negociata a sua vocação.
Bolando planos? Mas que beleza! Será lembrada a sua proeza$

Assim sendo fomos chegando. Posso entrar? To convidando!!!
E na porta da Prefeitura eu paro e indago: Tu marcou hora? Mas que tapado!
Cê já num sabe que a maleta quando vem primeiro, convida a todos, é um festejo!?
E no gabinete do Secretario, muito depressa fomos entrando, sem cogitar de ser barrado.

Levei papel, levei caneta. Da sala de reunião sequer vi a maçaneta.
A mim restou a silhueta de um palhaço sem pirueta, guardando a bola dentro da maleta.
Depositário? Mas vê se pode! Se o bicho pega ninguém me acode.
Mas lá em Feira tudo pode, basta um terno e alguns trocados, que como Midas será amado.

Depois de quatro horas tava fechado. E é só o que ouço: política, colega, é resultado!
Porque no Brasil o povo é educado, fazem de tudo por um agrado.
Fiscalizar? É mão-de-obra! Alvará, mas sem demora! Licitação: precisa não!
Seu dinheiro bem aplicado. Melhor que Banco, ora retado! Pode confiar que não tem errado. Pelo presente de bom grado, do Prefeito um muito obrigado!

Cooperação? Estamos ai, se precisar é só pedir! Mas lembre antes de depositar, um bambazinho pra agilizar.
E veja só mais que engraçado, na cidade da princesinha, livre acesso só do empresário.
Órgão público ministrado, partitura de balaio, caixa 2 e puxa-saco.
E o povo, ó coitchado! Sem emprego, dispensado. Acompanha a fome que abraça o tacho!

Olhe firme e não se espante, o dinheiro além do alcance.
Pense firme, pense forte, que o dinheiro acode a morte!
E porquanto bem explicado, para as cifras não há pecado!
Assim encerrada está a tarefa, apresentados os roedores diurnos, aqui na terra de Quitéria.

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