terça-feira, 15 de julho de 2008

Folguedos (José Carlos Berbert da Silva)

Por que sempre retornas,
Melancólica, arfante?
Hálito de jasmim, que enebria
Essas noites calmas do coração.
Volvendo-me e despertando
Serpentes já adormecidas.

Oh! Solidão, povoada de tantos mimos,
Sonhos, castelos, naufrágios.
Vida minha, pranto meu,
Fostes, deixando meus olhos
Fixos, foscos de esperança.
Olhos de quem morre,
E esquece-se de fechá-los.

Saudade, boa companheira.
Que restaria deste coração roto e solitário.
Sem essas quimeras doces, ternas e termais.

II

Licorzinho de jenipapo,
Licorzinho de São João,
O dia pressentia festa,
Bandeirolas, canjica, mangericão.
Licorzinho sorrateiro, libertou seu coração,
Pediu-me abraços e beijos, segurou a minha mão.

Olhando-te gélido, petrificado fiquei,
Pediu-me um beijo, te dei..
“Na boca”, tornou a pedir.
Estarrecido, amedrontado.
Os lábios trêmulos, toquei.
Sabíamos do nosso sentimento.
Um dia quem sabe até nos beijássemos,
Deveras.
Era mais que uma quimera antiga,
Sentida, cultivada.
Mas aquele não era o momento
De a quimera ser desatada.
Oh amiga! Fostes embora.
Aproveitas-te do licor mais e mais.
E, à noite, quando fui ao teu leito, aninhar-me
Como era costume conversarmos
Pediu-me que não mais voltasse.

Licorzinho de São João, beijos e abraços.
Jenipapo
Não mais quimeras,
Solidão.

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