terça-feira, 30 de setembro de 2008

Propriedade solar



Ela sente o calor do Saara
E seu queimar é tão pulsante
Que ao olhar o sol pela janela
O céu se ensolara, desanuvia
Para que todos possam vê-la brilhar

Sai sempre de saia, pouco vestida, atrevida
Tem de fora o pé da barriga, os ombros
E o vapor da carne a humedecer olhares

Sua força arde como lava cremosa
Por isso caminhe com naturalidade
Trejeitando destreza e desapego ao real

Essa criatura incandescente
Ativa construtora de sua história
Conta com a concordância dos astros
Por ser astro na terra, irmã do tempo
De predicativos humanos em sentido desumano

O seu calor adere aos corpos receptivos, yin e yang
Aos homens vorazes, às mulheres capciosas
Às crianças risonhas, aos idosos, ao cão de rua

Eles a vêem e a comem e precisam tocá-la
Desejam e querem consumi-la totalmente
Ela é coisa e dela necessitam ainda mais
Tê-la nua no cômodo feito lâmpada ligada

Mas ela, ela vive em si e para fora
Independe do resto, desobedece ao curso formal
As mulheres que exala pelos poros e gestos e palavras
Desconhecem sujeito apto a dominá-las
Capaz de retribuir-lhes os prazeres à altura

A Mulher, essa figura, apesar de tudo, os serve
E os ama e nem percebem
Ela passa com a intenção de acordá-los
De subverter a monótona paisagem do dia gris
Ao deixar nos olhares um tiquinho de plena luminosidade

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