quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Aqui jaz o Rio dos Seixos


Aqui, sob mim, onde finco meus pés secos
Jaz, silenciosamente, o extinto Rio dos Seixos
Sepultado entre largas placas de concreto

Corria como correm alguns outros, mirradamente
Já sem afluentes, sem a mata ciliar
Sem margens e quase sem vida

Era como intruso - água corrente entre asfalto duro
Tingindo de descaso a burguesia da Bahia
Era mais um dos tristes cartões-postais expostos

Tentavam, acanhadamente, despoluí-lo
Devolver-lhe a dignidade e a pureza primitiva
Mesmo que de forma miúda e pouco efetiva

Acontece que acontece, chegou o período eleitoral
E o caro Prefeito
Resolve fechar o mandato com essa obra iníqua

A fim de se reeleger, destinou R$ 28,5 milhões
Para sanar o problema da drenagem das águas pluviais
Que afetava a população da Avenida Centenário
.
O que seria um dos slogans de sua rica campanha
Mostra-se como trágico crime contra o meio ambiente
Exemplo de demência, falta de consciência...
.
E sem concorrência ou licenciamento ambiental
Contratou sua amiga-empresa para tapar o Rio
Para cobri-lo com praças, parquinhos e ciclovias
.
Teve o cuida de manter, pelo menos, as árvores
Senão seria gigantesco o alarde e ainda mais covarde
Iriam chamá-lo de monstro e destruidor da Natureza
.
Alguém protestou? O acomodado não se incomoda
Acha bacana levar o cachorro para defecar na grama
Acha bonito ver a obra pública não se estender "ad infinitum"
.
Parte dos ambientalistas está enlouquecida
Pois ali corria vida, havia alguns peixes e pássaros
Além do fato de terem aberto outro precedente bizarro

E o Ministério Público? Diz que vai tomar providências
Irá questionar a ausência de laudos e relatórios e etc
Quando o túmulo já foi concluído e logo será inaugurado

Agora o Rio dos Seixos virou o rio zumbi
A minguar num túnel escuro e lodoso
Vítima impotente de mais um golpe humano

Um comentário:

Pedro disse...

Boa!

Faltou um detalhe, não? rs...
Valeu pelo coro "meu pai".

Abraço