segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Multiplicidade



Gosto do clima das ruas
O povo nas calçadas estreitas
Quase se encontrando, se batendo
Misturados no que chamamos Cidade

Caminho e observo esse povo
Tento sentir as atitudes e os trejeitos
Percebendo-o percebo-me melhor

O baleiro sobe de busu em busu, sempre com promoção
Conhecedor das linhas, informa sobre qualquer destino

Filhos de santo oferecem banhos de folha e de pipoca
Todos de branco, se divertem mais do que trabalham

Camelôs postos diante das pilhas de contrabando
Oferecem de tudo, há pressa e temor do RAPA

Quieto o vendedor de livros e revistas e discos usados
Tem ali sua história reunida a tantas outras

Lindas baianas atrás do tabuleiro, os olhos na fritura
Em cada resposta um sorriso, cozinham cultura

O bolo de miseráveis, nômades de aço, resistem ao impossível
Procuram comida, cura, bituca, dinheiro, ajuda, sapato

Crianças risonhas voltam em bando do colégio público
Vêm numa zoada danada, se perturbam, são contagiantes

O cara desfila com o carrinho de café sonoro e colorido
Parece um mini trio-elétrico, segue ao som de Bob Marley

Empresários de expressão bruta, sisudos e abafados
Suam copiosamente, lenço na mão, dinheiro no bolso

Hippies sentados lado a lado e aos panos de veludo
Em resistência silenciosa, esperam pacientemente pelo sustento

Senhoras entrevadas, curvadas pelo excesso de trabalho
Sempre subservientes, ainda pagam o preço da escravidão

Os feirantes em suas bancas de frutas e verduras
Jogam água para protegê-las do sol e parecerem frescas

Surge o quase extinto amolador assoprando seu inconfundível apito
Corta as ladeiras empurrando sua engenhoca tão peculiar

Passa a gestante segurando a barriga e a amiga já parida
Voltam juntas do posto de saúde e param para um lanche

Os panfleteiros, os compradores de ouro, os vassoureiros
Velhos relojoeiros, PMs e suas panças, loucos de todo tipo
O rapaz da taboca, do sorvete, do picolé, da pamonha, do milho

Os banhistas e a certeza de estarem no caminho certo

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