quarta-feira, 26 de março de 2008

Infância sertaneja


Tá clareando no canto dos cardeais
O sereno lava o rosto e espanta o sono
No curral tirar o alimento, esquentar o corpo
Em direção ao pasto para apanhar o alazão

Molhar as pernas no orvalho mateiro
Lançar o cabresto por cima do dorso
Montado em pêlo junto à cernelha
Cavalo arreiado pronto pro trabalho

Reunir o gado cantando em aboio
Todos já conhecem o destino da cancela
Cheiro de couro vivo entra pelo nariz
Berram enquanto os vacinam e ferram

No almoço carne seca, feijão, farinha, ovo
Água gelada direto do minadouro
Tirar uma madorna na rede da varanda
Espantando as moscas que vêm das poças

Serrar uma boa forquilha de araçá
Pronto o badogue começar a brincadeira
Aprendi com os outros meninos:
A imaginação monta o melhor brinquedo

De tardinha hora de dar banho no cavalo
Aproveitar para pescar piaba e se banhar também
Como é linda a luminosidade da caatinga
Correr pra casa que o vento frio já vem

De noite o céu parece um presépio cintilante
Ouvem-se os sapos e grilos, senti-se o gambá
Um leite quente e um casaco bem forrado
Logo mais já é hora de levantar

Um comentário:

Pablo disse...

muito boa jão, c tem familia na caatinga?
Quando eu era criança eu não gostava de ir pro interior, o de minha mãe era muito longe, 7 horas de estrada de barro, e eu nunca gostei de carro.
amigos ao vento tem uma forma mais criativa, sem artigos e outros frufrus da lingua formal. Essa é mais descritiva, natural.
descente!