segunda-feira, 31 de março de 2008

4ª poesia


escrevendo
todo
dia
hoje
escrevi
3
poesias

domingo, 30 de março de 2008

Arcabuz

Não sou brilhante
Não serei eterno
Minha escrita sim
Será imortal
Quanto mais escrevo
Mais erro

Não terei cadeira
Sombra de um busto
Detesto formalidades
Lava-pés, toga
Sou subversivo
Fodam-se canalhas

Me limpo com dinheiro
Sou anti-higiênico
É pouco o que tenho
Minha cabeça anda cheia
Portanto, nada de tanto
Papel, caneta, nada mais

Inté parece!


Na minha frente tem uma roda diferente
Um bando de veio sem dente vestido de burra
Sobem descendo rodando cantando todos
E os rabos das burras balançando pra lá pra cá

Que diabo é isso?
E um veio me responde:
Moço num fala esse nome
Que hoje é dia de nós comemorar!

Inté parece! De cabrunco aqui tá cheio
Cristão não veste de burra na hora de festejar
Chapéu de palha cheio de fita colorida
Camisa feita de chita e um jaleco pra combinar

E eu me pergunto
Diabo de dança é esta?
E me responde uma criança:
É a dança da Burrinha bestaiado!

Pra mim parece imitação de boi-bumbá
Na farta de boi na roça panharam burra pra arreliar
Fazê o que? Parado é que eu não posso ficar
Me dê cá esse pandeiro, vou tocar pra esses veio dançar

sábado, 29 de março de 2008

Lázaro São


toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo
toca raooo

Mocofaia


Ninguém pode me ouvir
Só eu
Triste de mim
Obrigado a processar tanta bobagem

Sou meu próprio carrasco
Mártir em mim mesmo
Sigo como Judas Eucariotes
Amaldiçoado por não sei o quê

Neste ato deságua meu rio
Subjetivo Teorema de João

muitas coisas



Ontem deixei escapar uma inspiração
Por desatenção o papel caiu do bolso
Não sei onde nem sei quando
Foi-se como se vão tantas coisas

Espero que, ao menos, a outro poeta sirva
No desejo puro de poetizar tudo que há
Feliz por ter dado de cara com verso alheio
Será uma espécie de parceria às escuras

Quem será ele?
Ou ela?
Importa?

E então, meses após este precinecessário desabafo
Poderei perceber minhas idéias tocando no rádio
Dando a entender que as perdas são inevitáveis
E imprescindíveis para se entender o que seja sorte

sexta-feira, 28 de março de 2008

orvalho do mar


Cigana-sereia-sorriso-sutil
De quais águas traz este feitiço?
Desce do céu e brota do chão
Aviva toda mata com seu alecrim

Amarela-viva-manga-carmim
Seria de ouro esse brilho furtivo?
Perco-me enquanto fura sua miçanga
É toda mistério, quimera indecente

Quando pode explicar não fala
Assobia uma melodia alegre
Leio em tua leveza o ar da graça
Como deve ser bom viver abstrata

Inconsciente permaneço em teu enlaço
Esperando por tua sorte, noite do norte
Bole no cabelo, finge dar-me uma pista
E roda e gira e suspende a saia de seda

Saudade dela

Minha irmã noutro extremo do oceano
Pedaço de mim distante, ausente
Presente, todavia não como antes
Evidente na memória de passados anos

Fábula do pássaro que abandona o ninho
Voa livre para traçar o próprio caminho
Nessa rota debate-se com inúmeras vilezas
Pousa vitoriosa e repousa em sua fortaleza

Muito se perdeu, quanto será perdido?
Resposta não há, apenas um gemido
Por seu retorno já não alimento esperança
Ela sorri num lar chamado lembrança

quinta-feira, 27 de março de 2008

o que é o que é!


São todos poetas
Não sabendo ou negando
Ser poeta é abrir o olho
Mesmo sendo cego de dois
Todos têm a visão dalma
Sentimento nobre, mesquinho, austero

Sempre há tempo para poesia
Por mais que se esteja atrasado
Sendo o momento desimportante
O instante sendo notado
A poesia é atemporal
Sempre e nunca no mesmo lugar

Sempre há lugar para poesia
Na gota de cair frio
Nos tapas de quem se quer
Na poeira da despedida
A poesia é nela pouca
É algum canto, viela, assanhamento

Esta, isto, o que é o que é
É a força poética sem dono
Encontro de dois instantes
Um precisar e um querer
Peregrina menina em busca de flores
Poesia, poeisa, poeias, spoeia ...

São Lázaro


De um momento para o outro, um assalto
Quatro homens, dois revólveres, várias vítimas
Vozes rudes, brutalidade convincente
Rostos fechados, cobertos, pétreos
Todos mais jovens do que eu, triste constatação
Não houve o que fazer (fugir, esconder)
Levam-me coisa de menor valor
Entrego um celular comprado por 10 reais
Não pedem o carro ou a corrente de minha bisavó
Foram ordens atrás de ordens
Acatei a todos, como num quartel, Generais da Guerra
Certeza da incerteza
Não reagir acima de tudo
Manter-se o mais imóvel possível
Prezar pela vida, por todas
Durou poucos minutos, mas é aquela conversa:
Pareceu uma eternidade
Noutro minuto sou tomado por uma euforia
Alegria mesmo, sorriso imóvel, inabalável
Por todos estarem bem
Pelo mínino do mínimo
Peço logo outra cerveja
Sobraram-me 5 reais, estou rico
Armo meu tabuleiro de xadrez
Ligo o som do carro (Cordel)
Eis que chega um amigo trazendo novidades
Sorrio ainda mais pelos recém-pobres indignados
Valentões, discípulos de Chuck Norris
Querem pegar, bater, atropelar, muita TV na mente
Infelizmente, a vida é assim no Brasil
Distribuição de renda na tora!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Infância sertaneja


Tá clareando no canto dos cardeais
O sereno lava o rosto e espanta o sono
No curral tirar o alimento, esquentar o corpo
Em direção ao pasto para apanhar o alazão

Molhar as pernas no orvalho mateiro
Lançar o cabresto por cima do dorso
Montado em pêlo junto à cernelha
Cavalo arreiado pronto pro trabalho

Reunir o gado cantando em aboio
Todos já conhecem o destino da cancela
Cheiro de couro vivo entra pelo nariz
Berram enquanto os vacinam e ferram

No almoço carne seca, feijão, farinha, ovo
Água gelada direto do minadouro
Tirar uma madorna na rede da varanda
Espantando as moscas que vêm das poças

Serrar uma boa forquilha de araçá
Pronto o badogue começar a brincadeira
Aprendi com os outros meninos:
A imaginação monta o melhor brinquedo

De tardinha hora de dar banho no cavalo
Aproveitar para pescar piaba e se banhar também
Como é linda a luminosidade da caatinga
Correr pra casa que o vento frio já vem

De noite o céu parece um presépio cintilante
Ouvem-se os sapos e grilos, senti-se o gambá
Um leite quente e um casaco bem forrado
Logo mais já é hora de levantar

Amigos ao vento

Vida surpreende novos inventos
Amigos filhos vento patículas
Subindo descendo ruas mundo
Quebrando esquinas placas
Disponíveis evento eólico
Energia presente corrente
Trazendo alegria soma
Ar quente mistura frio
Saveiro necessita movimento
Vida perpassa intransitivamente
Pedindo complemento companhia
Vento venta morno acalento
Vento venta forte companhia
Dissipa rarefeita existência
Para onde conjuga pensamento
Odor vento, sabor companhia
Espaços completos tempo
Vento amigo dias

terça-feira, 25 de março de 2008

Vai comigo


Ah morena moça das calçadas
De tanto te ver quedei admirado
Por teus cabelos ao sol ventilados
No leve cruzar de tua caminhada

No trabalho todo dia me atraso
Obriga-me a retardar minha saída
E quanto mais te caço na avenida
Agrava-se enormemente o meu caso

Bem que poderia puxar um assunto
Lembrá-la que somos conhecidos
Mas a mim por vezes pergunto:
Valerá a pena desmanchar o colorido?

Fato é que este engano faz-me bem
Querê-la de longe me torna sonhador
Dou mil sorrisos na presença de ninguém
Apenas imaginando este possível amor

domingo, 23 de março de 2008

Resumo


Cobiço todas as mulheres
Não busco seus defeitos
Miro apenas as qualidades
Um belo rebolado
Cabelo cheiroso
Inteligência
Bom-humor
Charme
Sem demagogia
Mas todo este desejo
Reúno em uma que mais amo
Em resumo

sábado, 22 de março de 2008

Sonhei II - A caverna de Platão


Agora, éramos cinco índios vivendo num barraco
Estávamos tensos, algo nos preocupava
Pediram-me que fosse a rua comprar comida
Levei um parceiro comigo
Fui hostilizado já na chegada
Índios não poderiam entrar na cidade, entramos
Na venda não queriam vender, roubamos
Na praça quiseram nos linchar, revidamos
Girava a enceradeira incessantemente
Assim ninguém se aproximaria
Mas o estúpido nunca recua
E terminei acertando um ladrãozinho no rosto
Fomos perseguidos até o barraco
Armei uma cilada
Quando o ladrão entrou eu o acertei várias vezes
Não adiantou nada
Ele partiu para cima de mim
Tinha um canivete em sua mão esquerda
Quando preparou o golpe eu já estava numa ilha
Com mais dois índios
Talvez os demais tenham sido mortos
Com poucos segundos fomos atacados por uma entidade
Meus companheiros haviam morrido
Fiquei só, perguntei a mim mesmo o que fazer
Uma voz amiga me mandou entrar no velho templo, entrei
A porta transformou-se numa muralha de pedra
Estava trancado no escuro
A voz amiga tornara-se velha e ácida
Disse-me às gargalhadas: “agora você se fudeu”!

Ao pablo

As palavras escorrem da sua cabeça nascente
Acumulam-se vibrantemente em suas mãos
Chocam-se pressionando a saída, nascimento
E basta um furo de alfinete, pé de vento
Para virarem canção, mera cacimba
É tanta água, que se faz um amazonas
É tanta flor, que se planta um bosque
É tanta idéia, que se enche um livro
Corta teu peito por inteiro, liberta-te
Usa a caneta, o teclado, instrumento cirúrgico
Vira luz e esquece da morte!

sexta-feira, 21 de março de 2008

Rinha

Crueldade
Crueldade
Crueldade qualidade animal
Feito felino em seu território
Reflexo do instinto de sobrevivência
Mata-se pela vida
Pela manutenção da ninhada
Crueldade
Crueldade
Crueldade qualidade de bandido
Feito traficante na troca de tiro
Reflexo do caos sócio-econômico
Mata-se por dinheiro
Pela manutenção do comando
Crueldade
Crueldade
Crueldade qualidade tua
Feito louca em manicômio judiciário
Reflexo do sentimento de posse
Mata-se por mim
Pela manutenção da união instável

quinta-feira, 20 de março de 2008

Pessoas Amigas

Pessoas amigas
Amizade intacta
Suave distância
Relevância tolerada

Indiferença humilhante
Melhor defesa
Para um ser em perigo

Como explicá-la?
Com a poesia

Criaturas distintas
Valores diversos
Idéias contrárias
Discórdia constante
Conflito crescente
Dos corações feridos

A indiferença apartou
Os, então, desconhecidos
A raiva apoderou
O ser desinibido

Muitos fogem
Poucos lutam
O tempo passou
Nada a fazer.
Como recuperar
O coração partido?

(Vitor Paradella)

Poética Dialética


A poesia me fez amante
Traidor da vida que levo
Trilho caminhos antagônicos
Banho-me em rios inversos
A caneta que suja meus dedos
Pinta meu rosto para guerra
Invejo a coragem dos palhaços
Personagens da mesma comédia
Seguirei negando meus atos
Expurgando-os de frente ao verso
A poesia me fez mais humano
Traidor da vida que malverso

terça-feira, 18 de março de 2008

Raimundo

Nas ruas da velha Salvador
Vagam moribundos no limbo
Remanescentes de antigos quilombos
Ex-metalúrgicos alcoólicos
Viciados em pedra
Crianças ao deus dará
Completamente invisíveis e mudos

Já não é possível ouvir
Suas tosses tuberculosas
As insanidades praguejadas ao léu
A mendicância consumada nos sinais
O lascar dos sacos de lixo
Suas discussões aos berros
Um pedido de socorro

Já não é possível ver
As armações de titânio nas pernas
O aspecto pútrido de suas moléstias
Roupas lascadas pelo uso
Seus fogareiros sob os viadutos
Sua humanidade consumida
A Cidade apaga suas vozes e cores

Sentimos apenas seus cheiros
Fétido-desagradáveis
Vindo do lodo que cobre seus corpos
Acumulam-se nas feridas e dobras
Filhos da mistura e do inchaço
Sangue-pisado, pus, piolho, catarro
Uma inhaca inerente aos pobre-coitados

Esse cheiro, esse bafo de esgoto
Está impregnado em nossos cabelos
Aderiu a nossa pele, nos descama
Contamina a comida que comemos
Permanece nas roupas lavadas
Cheira embaixo das nossas unhas
No travesseiro, na toalha, no garfo

Esse cheiro que não se sente, sairá?

segunda-feira, 17 de março de 2008

Sonhei


Como pinha diante do quintal
Cuspo os caroços em direção aos sapos
Enormes e cinzentos
Comem as sementes rapidamente
Disputam-nas
Sinto medo, eles me assustam
Um inicia uma marcha atlética
Corre em círculos
Traz uma faixa na cabeça
E uma expressão de esforço
Seria o efeito da semente?
Fecho o portão de acesso
Corro em direção ao varandado
Pressinto uma confusão ao lado da casa
Na árvore seca centenas de morcegos
Gritam em desespero, cagam todo chão
Chocam-se uns contra os outros
Milhares de marimbondos os perseguem
Com certeza morrerão
Tento escapar do ataque
Recebo 4 ferroadas, 1 na perna
3 no braço esquerdo
Tranco-me na casa, ofegante
Verifico o forro do teto
Na sala há duas irmãs
Elas vêem em minha direção
Ambas estão nuas
Já não sei o que temia
Levam-me para cama
Acordo tranqüilo

sexta-feira, 14 de março de 2008

Dente de leão


Que amor é esse?
Por mais que negue
Xingue, renegue
Não segue
Não cede
Só cresce
Cerca
Enrosca
Ama

Bá!
Queta com essa conversaria
Enrole uma punheta pra minha vó
E ponha um abará completo pra mim
Só não quero essa invenção de caruru
Bastante pimenta nas duas bandas
Pode colocar umas sementezinhas
Preu sentir os gostos do seu quitute
Vatapá, camarão e salada
Em porções caprichadas
Pra ver se mata minha fome de leão
Me dê qualquer bebida gelada
Senão eu vou suar que nem cuscuz
Ói, reserve um acarajé embaixo deste pano
Pra hipótese de minha fome não passar
Aí eu acabo de me acabar
Vai ser dendê pra uma semana inteira
E se você tiver uma esteira de palha
Me empreste que vou estendê-la aqui
Bem na frente de seu tabuleiro
Pois não vou ter condições de fazer mais nada
A não ser deitar e tirar um bom cochilo
Na sombra deste jambeiro

as vistas


Onde você vê a escuridão
Eu enxergo o oceano atlântico
Infinito espelho d’água e céu
Ondas quebrando nas rochas
Pulverizando sal no ar terrestre
Renovando a areia das praias
Limpando-as num carinho lento
O deslizar das embarcações serenas
Caminhos em plena superfície
Destino aos portos e portas de casa
Alcanço a vida nadando macia
Vôo num universo subaquático
Em busca de águas mais quentes
Do esconderijo nas locas dos arrecifes
Bailarinos e senhores dos naufrágios
Calmaria do mar, horizonte
Vejo coisas que penso
Penso coisas que vejo

quinta-feira, 13 de março de 2008

Três vezes racional


1 é decente
2 é muito bom
O Racional 3 é do caralho
Salve, salve o Universo em Desencanto
E toda a sua influência sobre Tim Maia
Meus filhos se chamarão Tim Maia Racional UM,
Tim Maia Racional DOIS e
Tim Maia Racional TRÊS!

quarta-feira, 12 de março de 2008

Vaso vazio


Como queira
Aguardarei seu tempo
Ou quando puder
Estiver disponível
Assim vai...
Sem maiores porquês
Nada de adeus
Nem pelo amor de Deus
A decisão é sua
É sua a razão
As suas verdades
Os seus motivos
Não sou passional
Somos 6 bilhões
Mesmo sem seu cheiro
Sem sua luz
Ainda assim
Somos bilhões
Pode ser difícil
Você sabe
Mas eu sou perseverante
Nós sabemos
Só me resta isso
Seguir
Andar
Evitar a bebida
Certos lugares
O telefone
Mandarei e-mails
Voltarei à psicóloga
Não encherei nossos amigos
Trabalhar, nadar
Voltar a estudar
Mudarei meus horizontes
Novas perspectivas
Nova casa
Quase outra pessoa

a perder de vista


das bocas escorrem uma infinidade de gostos
graças ao cheiro agradável expelido pela terra
às cores vivas que cobrem de luz coisas e corpos
ao prazer de tocar a delicadeza das texturas

o melhor da vida ainda está por vir, e virá
fluindo naturalmente em cada papo agradável
nas expectativas que se renovam toda manhã
do acaso da arte com uma mente produtiva

serei eternamente grato a ti, minha vida
pularei do trampolim de cabeça, peito e bomba
não escaparei de nenhuma das suas zonas
tendo em vista o que não se pode prever

o tudo é muito mais radiante e belo, mais tanto
que não frustrarei nenhum dos teus planos
aceitarei convites, reclamações, trotes, enganos
passo a passo com o tempo quando

terça-feira, 11 de março de 2008

Independência Sioux

Sioux
Resistência nativa em nome da terra-mãe
Lutaram bravamente contra chumbos e canhões
Povos irmãos dizimados ao longo das planícies
Os poucos sobreviventes abandonados por sovinice
Sob os olhos Estatais foram largados em reservas
Se mantendo com pouco, pra não falar em miséria

Após séculos um novo Grito de Independência
Já chega de mendigar por um naco de clemência
Queremos ver como o poderoso EUA tentará reverter
Já que não poderá mais massacrar e pisar você
Seu direito de levante sempre esteve resguardado
Não se repetirão os terrorismos do passado (Sand Creek)

Povo Ameríndio de toda América-Genocida
Esse exemplo reflete uma nova era vinda
Da reafirmação de sua cultura ancestral
Assuma a condição de possuidor original
Liberte-se das amarras desta civilização finda
Grite ser livre e celebre o Novo Mundo Indígena

domingo, 9 de março de 2008

Saravá, aonde vou parar? Oxalá, não pare!


Eu sou tão supersticioso que creio na magia dos astros
Para além da Astrologia dos signos do zodíaco
Confiado num vento que desce da Galáxia Sensorial
Junto ao feixe de luz positiva, direcionados ao meu corpo

Quão poderoso é o glorioso mistério dos planetas
Semi-fundido no achismo casuístico de tantos cientistas
Tão lógicos que inebriam o encanto deste terrestre
Nas aspirais de folclore mítico e desarrazoado

Descrente do estado de ser meramente um ser celeste
Estando e permanecendo mágico como o sol de fogo
Alumbro os efeitos dessa cauda de cometa enfumaçada
Trançando idéias de transe, transcendência e transição

Onde termina meu sistema de absorções e prospecções?
Talvez num buraco prismático de irradiação indelével
Ou num pico de meteoro em direção à longínqua A1689-zD1
Quiçá na antena parabólica dos ovinis que nos rodeiam

sexta-feira, 7 de março de 2008

Sem título


O homem e seus muros concretados
Sem portas, átrios, escadas de emergência
Construídos e escorados por idéias vazias
Ensejadores de subconceitos e feridas na alma

O homem enclausurado em sua casa
Isolado em seu automóvel
Solitário em sua escrivaninha
Abandonado por si mesmo num templo

Esta cultura que nos afasta
É a mesma que nos mina
Obrigando-nos a vender nossos rins
A questionar a existência da felicidade

Vislumbremos um futuro uno
De paz e protocooperação
Para isso será preciso abrir fendas
Curar em cada um o câncer do desamor

Outra fantasia

























Durante muito tempo
Sonhos adormecem no fundo de uma gaveta
Dobrados dentro de uma velha agenda
Amarrada por um nó cego
Misturados aos diversos papéis
Considerados guardados, porém abdicados

Já não é possível lê-los
Materializam-se apenas algumas palavras
Pedaços de borrões amarelados
A traça do tempo é voraz
Resta reescrevê-los
Atualizando-os para novas estações

Outros sonhos
Noutros momentos
Noutra etapa
Outra fantasia

quarta-feira, 5 de março de 2008

Servimos-nus


Cubro-te de mel, manga, abacaxi, pitanga
Lambo teus orifícios, dobras, intersecções
Roço nossos corpos de vinho tinto à mesa
Peço que exprima as sensações da colheita

Aperta engalfinhada nas minhas costas desnudas
Voa alto sem, ao menos, deixar o plano que toca
Dá-me os prazeres submissos a tua louca vontade
Unha meus cabelos, potencializando meu êxtase

O sexo dura enquanto permanece o gozo e a sede
E ficamos cobertos de suor, saliência e mais nada
Por vezes, por horas, pondo o desejo em prática

Voluptuosa, mole na cama pede o último beijo
Exaurido, concedo-te qualquer que seja o pedido
Por ora, descansamos da delícia altamente cativa

Com Licença mais q Poética


Chama-la melhor do poeta qualidade
Por transpor a lingüística clássica
A ortografia exata dos idiomas ancestrais
Salva-se a língua ao dar-lhe vida noutra

Aqui inclui a mim, sílaba atômica
Simplório poeta vespertino chuvoso
Buscador desde muito menino
Das lições líricas que a alma emana

Faço, traço, trama, rama, grama
Minto poesia, simulo, hipocritizo
Mesmo sobre linhas deixo perder os sentidos
A razão, o conteúdo, as palavras, a finalidade

Queria eu ser um Pessoa para o mundo
Mas me contentarei em ser imundo para as pessoas
Aqui me te torno bestial e prolixo ao cubo
Mandandote à tonga, mironga, cabuletê sabará

Refarei as poéticas outrora hipercertas
Deixando-as mais tortas, sinuosas, afonéticas
Pois que trago na cabeça mesmo antes do nascimento
A qualidade de catar letras no bramir do vento

Abra tuas cadeadas de certeza e exatidão
Leia minhas falas impressionadas nesta televisão
Permaneça internectado neste pensamento volátil
Saliente nestes devaneios babiloucos e segregados

Findo meu teclado já danificado pelo vírus de sebo
Estriquinizado na leitura deste oco de mato e rio
Cortarei teu cabo com meus apropriados dentes
Dando começo ao resto do meio que passa a ser fim

terça-feira, 4 de março de 2008

Matéria Humana



O novo soa estranho, assusta, por vezes incomoda
Causa uma ruptura, declina ou alteio o patamar
É esse balanço que entorpece, enfurece, arrebata
Instintivamente reage, retruca, desmama, saúda

Mudar é renascer em vida
Adote uma postura mutável
Para que prender-se, cegar-se?
Mas vale migrar pro outro lado
Revolução, Revolta, Revoada
Seu corpo está em transformação
Passe isso pra cabeça
Se não fosse a mudança
Samuel Beckett seria apenas poeta
Vinícius morreria entediado na Bossa
Paulo Autran não brindaria nos palcos
Kafka permaneceria no óbvio
Picasso não revolucionaria a pintura
Ettore Scola seria feio, sujo e malvado
As mulheres continuariam a dormir no pisador

Prefira ser uma metamorfose ambulante
Siga o as palavras de Clarice: MUDE!

mudo
mudas
muda
mudamos
mudais
mudam

o mundo nunca é o mesmo
tudo sempre muda tanto
tanto muda o mundo todo
muda o homem tanto quanto

segunda-feira, 3 de março de 2008

O vingador de Lampião


A sede mata a fome
Te darei um nome
Curisco
Pedra de fogo
Mato que invade casa
O redemoinho assobia
A trovoada o chama
Responde teu nome de homem
Curisco
O bando faz frente
Fi da peste do cabrunco
Frebe do rato
O sol te consome
Pragueje um nome
Curisco
Estoporado
Sapo corre dele
Carcará voa longe
Cai folha, cai pau
Quando a madeira deita diz
Curisco
Bate vento quente
Dúzia de dente
Couro esfolado
Facheiro de 1000 pontas
A coral traz na ponta da língua
Curisco
Menina nova
Morre pai e mãe
Alpercata arrastando
Cava cova o irmão
A pá fuxica na terra
Curisco
Seca de dentro pra fora
Muringa rachada
Cavalo moco
O bezerro enjeitado berra
O passarinho se bate na janela
Curisco
Farta de chuva
Farta culhão
Some no raio
A mula galopa
O verme murmura na bosta
Curisco
Bolo de gente
Punhal afiado
Aboio em lamento
Mosca do chifre
A raiva que mata reclama
Curisco

Compasso alto


Pelas calçadas
O homem leva seu vilão pendurado no ombro
Na mão um tanto de cds
Segue cantando suas canções
Distraído
Que mal o aflige?
Observa a cidade e seus personagens
Repara pequenos detalhes
O limo na fachada do casarão
O cofrinho magnético da morena
O vôo dos pássaros
O animado carrinho de café
Interage com a paisagem urbana
Mentaliza fotos, emoldura belos quadros
Repensa as agruras do mundo
Questiona o porquê de tanta miséria
Quanta pobreza nessa civilização de ponta
O mendigo o inspira e expira
Mas cantar a desdita não compra o pão
O vento levanta a poeira trazida pela chuva
Seus olhos se fecham e o compasso continua
Onde se esconde a rima?
Esse homem de andar desleixado
Persegue as impressões, qualquer uma
Anota coisas nas costas da mão
Retalhos de uma simples caminhada
“O mundo no fundo dos olhos de quem me vê”
“Quem anda com velho é bengala”
Ri sozinho, parece um tolo
Faz música com as moedas do bolso
Enquanto adivinha os pensamentos de um enfermeiro
Decide usar roupa branca em seus shows
As conversas alheias o atraem
Novas gírias e problemas de gente comum
Até um comentário sobre o Big Brother
Ele não assiste mais TV
Prefere caminhar pelas calçadas
Aonde vai esse homem,
Senão em busca da felicidade?!