sexta-feira, 6 de novembro de 2009


... veloz cidade

À caça a carcaça
Camuflada na fumaça
Fuma seu cigarro
Outro pigarro
Um cuspe escuro

Olhos irritados
Dentes ácidos

Dedos escarnados
Estômago frio

Salve o slave!
Salve o slave!

Tiro dentro da boca
Da boca do fuzil

sábado, 12 de setembro de 2009

Ainda escrevo.
Ainda com frequência.
Não publico, por necessitar de material inédito - totalmente inédito!
Aí embaixo está uma gotinha do que ando fazendo!
Devo confessar: uma das mais pequenas!


Moça das monções
Intérprete das intempéries
Rosa do reisado

Borboleta cujo bater das asas destrambelha as tensões

Mãe das cartas cuja sorte faz do homem um rei

Ave de canto de vôo de plumagem

Arquétipo da fêmea
da orquídea
da manhã

amora... aroma... aurora

despertar e delirar dum querer espontâneo
que intriga os sentimentos brandos
e subverte os restantes

admirar e conceber dos encantos da mulher
sem caprichos ou falsas construções
com divino charme e esplêndida mina

desventura, desenlace, desiderato

união de
olhos vastos e calmos
boca aberta e precipitada
cheiro doce e seco
corpo e cólera
ventos e fala

tu,
a desconhecida perceptível demais
por demais conquistadora
incrivelmente incandescente
indecente, indelével, indecifrável

de irrealizável olvidar
de implexo descrever
de inesgotável sonhar

e o que mais?
já não pretendo imaginar!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O OSTRACISMO DE WILSON SIMONAL


Por Galindoluma


O cantor Wilson Simonal foi muito popular no Brasil na década de 1960, sendo comparado a Roberto Carlos como fenômeno de massas. Pouco antes de morrer em 2000, acuado com a pecha de delator da ditadura militar, falava em recompor seu prestígio acusando a esquerda de perseguição ideológica e dizendo ser vítima de racismo.
Com o documentário — Ninguém Sabe o Duro Que Dei, em cartaz, o debate se o cantor era ou não serviçal dos milicos voltou à cena.
Muitos jornalistas, jornais, revistas aproveitam o documentário para atacar a esquerda, falando em patrulhamento ideológico e que não haveria provas alguma de que a estrela teria vínculos com o regime de exceção.
Paulo Vanzolini, poeta e zoólogo, autor de Ronda e daquele famoso refrão “levanta sacode a poeira e dá a volta por cima” disse que o moço não só era delator, mas tinha orgulho em ser. “Na frente de muitos amigos Simonal dizia que entregou muita gente boa”, diz o letrista, que arremata: “essa recuperação que estão fazendo do Simonal é falsa. Ele era dedo-duro mesmo”.
A Folha de São Paulo nesta semana trouxe uma vasta reportagem sobre o assunto que jogou por terra todos os esforços daqueles que pretendem recuperar a imagem de Simonal e desmoralizar a esquerda como suposta responsável pelo ocaso do intérprete negro.
O problema de Simonal começa quando ele contrata um torturador do Dops para exigir de seu contador, Raphael Viviani, a confissão de desvio de recursos. Ao lado dos agentes da repressão o cantor seqüestra o funcionário em sua residência de onde é levado para as dependências do Dops. Lá, debaixo de choques elétricos, socos e pontapés, o funcionário assumiu o desfalque.
Isso vai gerar depois uma ação judicial cujas páginas, para mim, encerram as dúvidas sobre a controvérsia em diversas passagens. Registre-se que apenas esse episódio já seria o suficiente para se colocar em xeque o caráter do artista.
Em não poucas vezes o cantor vai ser referido no processo citado na reportagem, como “colaborador das autoridades na repressão à subversão”. Selecionei pequenas partes da matéria com alguns poucos trechos do processo para que você analise ao final do texto, mas antes levantaria ainda dois aspectos.
Qual a força que a esquerda tinha naquele período sombrio para encerrar a carreira de um cantor de prestígio? Ora, quase todos os meios de comunicação de massa eram controlados e/ou aliados dos militares (a quem Simonal apoiava) e os movimentos de resistência encontravam-se quase que asfixiados com as prisões, torturas, assassinatos e exílios. No Brasil e no mundo é comum cantores surgirem como fenômenos e desaparecerem do mesmo modo. Na época de Simonal outros também fizeram sucesso e não mantiveram o fôlego, como Vanderlei Cardoso, Jerry Adriani, Vanderleia e outros. Se o episódio das delações corroía o astro e o deixava magoado e triste, devia ser por um problema de consciência dele, talvez de arrependimento, mas nunca por uma campanha organizada de perseguição contra ele. Arrancar confissões sob tortura não deve provocar boas lembranças a patrocinadores desse tipo de bestialidade humana.
O outro argumento, de racismo, para o ostracismo do apologista do golpe militar é outra balela. Daquele período tivemos também Jair Rodrigues e o próprio Jorge Benjor que mantem suas carreiras até hoje, porém, sem o sucesso da fase inicial. Portanto, aqueles que se emocionaram com o documentário, é bom ter cautela.
Lembrem-se ainda de que para sacudir a poeira e dar a volta por cima não é pra qualquer um, principalmente para quem delatou para o regime militar companheiros e companheiras que poderiam ser torturados e mortos pelos amigos do cantor. Simonal tentou. Não conseguiu.
“Todos esses documentos integram o processo 3.5 40, instaurado em 1972 na 23ª Vara Criminal, concluído em 1976 e em cujas 655 folhas jamais houve divergência: dos amigos mais fiéis ao antagonista mais ressentido, todos estiveram de acordo que Simonal -e ele assentia- era informante do Dops”.
“Às 15h de 24 de agosto de 1971, perto de nove horas antes da diligência contra Viviani, Simonal afirmou ter ido à rua da Relação "visto aqui cooperar com informações que levaram esta seção a desbaratar por diversas vezes movimentos subterrâneos... subversivos no meio artístico".
Ou seja, o primeiro a sustentar que Simonal era informante foi ele mesmo, e antes da ação da polícia. Na ocasião, o cantor lembrou que no golpe de Estado de 1964 esteve no Dops "oferecendo seus préstimos ao inspetor José Pereira de Vasconcellos" - outro denunciado por sevícias contra opositores...
Na 13ª DP, o cantor depôs em 28 de agosto. Apresentou-se como "homem de direita" e relembrou ter dito no Dops (no dia 24) que conhecia, "como da área subversiva", "uma irmã do senhor Carlito Maia" - era a produtora cultural Dulce Maia, "O declarante aqui comparece visto a confiança que deposita nos policiais aqui lotados e visto aqui cooperar com informações que levaram esta seção a desbaratar por diversas vezes movimentos subterrâneos... subversivos no meio artístico”;
“Como sabe V. Sa., o cantor Wilson Simonal é elemento ligado não só ao Dops, como a outros órgãos de informação, sendo atualmente o elemento de ligação entre o governo, as autoridades e as Forças Armadas com o povo, participando de atos públicos e festividades, fazendo de seu verbo e prosa a comunicação que há tanto tempo faltava." Mário Borges, chefe da Seção de Buscas Ostensivas do Dops;
“O primeiro acusado, Wilson Simonal, era informante do Dops e diversas vezes forneceu indicações positivas sobre atividade de elementos subversivos (idem)."Conhece o primeiro acusado [Wilson Simonal] porque após a revolução de 64 o primeiro réu sempre colaborou com as Forças Armadas."Expedito de Souza Pereira, tenente-coronel do Exército;
"Simonal se diz, com todas as letras neste processo, um colaborador dos órgãos de informação, por se tratar de homem de direita. A sua defesa corroborou isso com cifras definitivas [...]. Daquela época ["Revolução de 1964'] ao fato da denúncia se perfizeram 7 anos e meses de atividade policial auxiliar voluntária de Simonal;
"Que Wilson Simonal de Castro era colaborador das Forças Armadas e informante do Dops é fato confirmado [...]."João de Deus Lacerda Menna Barreto, juiz da 23ª Vara Criminal, na sentença do processo 3.540/72;
"O primeiro apelante, Wilson Simonal de Castro, era colaborador das Forças Armadas e informante do Dops [...]."Antônio Carlos Biscaia, promotor de Justiça, em contra-razões de recurso.
“Relatório interno do Departamento de Ordem Política e Social da Guanabara, com carimbo "confidencial", resumiu em 30 de agosto de 1971 a relação com Wilson Simonal: "É elemento ligado não só ao Dops, como a outros órgãos de informação, sendo atualmente o elemento de ligação entre o governo, as autoridades e as Forças Armadas com o povo, participando de atos públicos e festividades, fazendo de seu verbo e prosa a comunicação que há tanto tempo faltava".
”Em agosto de 1982, ainda na ditadura, a Folha circulou com entrevista de Simonal em que ele afirmou: "Dizer que eu dedurei os cantores comunistas é meio calhorda. Eles próprios nunca negaram que eram comunistas. Chico Buarque, Caetano Veloso jamais disseram o inverso. E qualquer criança sabe o que eles são..."
(galindoluma dá palpites)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

a poesia respira minhas idéias
confunde meus sosnhos
aguça amores - outros e meus

não deixarei de ser poeta
nunca
assim nasci

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Os traidores de classe

Milton Temer
Sáb, 28 de março de 2009 12:15

Entre os vários episódios pitorescos que marcam a Revolução de Outubro, na Russia de 17, um merece ser recuperado. Trata-se de um fato marcante, ocorrido com Alexandra Kolontai, e que resultou em filme de sucesso na União Soviética, lá pelos anos 70 do século passado.
Kolontai, revolucionária combativa e dirigente competente, todos sabem, era uma mulher de dotes físicos admiráveis. Com o que, e principalmente pelo seu comportamento individual libertário, exercia forte influência sobre seus pares, em um momento em que os embates sobre os caminhos da Revolução eram disputados por uma direção de altíssimo nível, mas onde a maioria era conquistada em cada confronto específico.
Comenta-se que, para evitar problemas com sua camarada de lutas, por quem tinha respeito, mas de quem temia posições sectárias, Lenin preferiu afastá-la do núcleo de comando. Por conta disso, nomeou-a embaixadora na Suécia.
Pois bem, e aí vamos ao grão, em sua primeira entrevista coletiva, ela se vê acossada pela inconveniência de uma pergunta de um jornalista sueco: “Como se explica que eu, filho de um operário, me veja na condição de social-democrata, enquanto a senhora, filha de um general czarista, se transforma em líder bolchevique?”
Kolontai não hesitou, e desmontou o inquisidor com a resposta: “Isto se explica porque somos, ambos, traidores de classe”.
Essa historinha de tempos heróicos, difíceis de imaginar no tempo em que vivemos, me ocorreu por conta da brutalidade das últimas declarações de Luiz Inácio Lula da Silva, em uma de suas incontáveis aparições públicas, onde discursa para criar manchetes de jornal.
Não; não estou me referindo aos vilões de pele branca e olhos azuis. Quem tem que comentar tal deslize com mais propriedade é João Pedro Stédile, que bate na trave da descrição presidencial sobre os responsáveis pela crise gerada com a hegemonia do sistema financeiro privado sobre a economia globalizada. Ou o humanista Leandro Konder, com uma vida dedicada ao combate intelectual sem tréguas ao capitalismo.
Estou me referindo ao absurdo do comício em que Lula conclamou os trabalhadores a, diante da complexa conjuntura atual, abrir mão do direito de reivindicar justa participação salarial na riqueza que produzem. "Hoje, mais do que fazer uma pauta de reivindicação pedindo mais aumento, temos que contribuir para que as empresas vendam mais" foi o que ele afirmou, sem corar, na Feira de Construção Civil semana passada.
O que quer dizer tal barbaridade? É por ignorância ou por má-fé serviçal que alguém, invocando sua condição original de sindicalista, conclama os trabalhadores a se sacrificarem para que os patrões não se vejam prejudicados na manutenção da taxa de lucro obtida pela exploração da mais-valia desses trabalhadores?
Tenho certeza de que não é por ignorância. E isto já havia sido demonstrado quando, por ocasião do encontro com o patronato da Embraer, Lula aceitou pacificamente os argumentos da empresa que terminara de demitir mais de 4000 trabalhadores. Argumentos que não impediram, logo depois, à Justiça do Trabalho, impor suspensão à medida, com imediata reintegração dos demitidos.
E não por acaso, assim agiu a Justiça. A Embraer não demitia porque não poderia pagar. Pelo contrário. Embora perdendo encomendas no exterior, seu fluxo de produção continuava normal. O que ela executava era em função de prever queda de faturamento futuro por conta do desdobramento da crise nos ditos países desenvolvidos. Ou seja; na possibilidade de diminuição dos lucros a partir de 2010, a Embraer se dava ao luxo de demitir, desde já, 4000 hefes de família, sem nenhuma proposta intermediária – férias coletivas, plano de demissão voluntária – a ser apresentada aos que tiveram as cabeças cortadas. O engulho é duplo quando nos recordamos que boa parte dos projetos exitosos da Embraer foi produto de sua fase estatal.
Lula, com seu discurso, deu provas, mais uma vez: um auto-proclamado representante do mundo do trabalho pode ser mais eficiente na defesa dos interesses do grande capital do que um magistrado, com origem acadêmica universitária, e previsivelmente muito mais identificado com este segmento privilegiado.
Com a extraordinária competência perversa do seu espírito pragmático, gera movimentos transformistas extremamente ambíguos, como os que executa em sua política externa, instalando confusão ideológica até entre seus adversários. O exemplo mais recente está na participação na reunião dos ditos chefes de Estado “progressistas” , realizado em Viña Del Mar, numa preparação da reunião dos G-20. Ali, defendeu enfaticamente o Estado forte, regulamentador. Sem dúvida, Lula pratica um Estado atuante na economia, mas não no benefício dos mais necessitados de forma direta. Estado forte é o que põe em movimento com as isenções tributárias, subsídios e financiamentos a juros privilegiados que fornece ao grande capital. Quando obrigado a se posicionar na contrapartida social, a linguagem interna se modifica. Para além da “forma barata de tratar a pobreza”, com o Bolsa-Família, o Estado só faz se omitir nos conflitos sociais e trabalhistas. Os banqueiros e os predadores do agronegócio, aliás, há muito tempo já haviam constatado isso.
Milton Temer é jornalista e presidente da Fundação Lauro Campos

terça-feira, 31 de março de 2009

Inacabada, mas já vale uma leitura!

A Torre impressionava à distância
Lá do alto era possível ver a curva da terra
A mais privilegiada contemplação do mundo
Alimentada pelo uivo do vento ininterrupto

Nela alguns experimentavam a segura solidão
A capacidade de ausentar-se de tudo
E ao mesmo tempo manter-se presente
Encontravam a si – sentiam o auto-conhecimento

Enquanto outros reconheciam seu poder -
A possibilidade de avistar os rebanhos longínquos
De observar o céu com maior nitidez
De antever um ataque inimigo

Não havia vivente que ignorasse a existência da Torre
Que não quisera saborear o gosto de ser seu ocupante
Mesmo que fosse durante a passagem de uma tempestade
Era ela o máximo do sonho, a mais alta estrela

Tolo foi aquele que pensou e tentou monopolizá-la
Que lutou aos seus pés para ser o único a usufruí-la
Pois era preciso deixá-la para conseguir água, lenha e comida
E ninguém suportava descer e subi-la num único dia

Mesmo assim, a cobiça à Torre cegou muitos homens
Não percebiam o feitiço ideal que carregavam
Imaginavam-se Senhores da Torre, Donos do Saber
Mas não passavam de servos em nome de um ponto de vista

Mortes aconteceram, tragédias se sucederam
E as gerações se seguiram ao redor da bela construção
Aos seus pés nasceu a Cidade da Torre
E adoptaram o Homem da Torre - seu guardião

Este gozava de prestígio e poder
Era quem determinava quem e quando poderia subir ou não
Bania da Cidade aquele que lá errasse
Como também, aquele que não o agradasse

O Homem da Torre não era só satisfação
Sofria o desassossego de ser caçado
Aspiravam matá-lo, aspiravam possuir seu mando
Mais do que a vida noutro canto sem disputas

E foram nomeados os Protetores do Homem da Torre
E Leis foram criadas para punirem os assassinos
E Prisões foram erguidas e ampliadas
E foi decretada a Pena de Morte

A desumanidade estava, então, enraizada
Os homens temiam uns aos outros
Não mais existia a glória de admirar a terra e a si
Havia sim, a batalha pela soberania sobre os demais

Mas nada na terra dura além de certo tempo;
Foi após tremer o chão que a Torre desabou sobre a cidade
Levando a morte à grande parte da população
Espalhando o desespero, a incredulidade

Muitos criam ser um sinal dos Deuses
Outros acreditavam no acaso - na natureza
Fato é que aquele povo perdera sua maior referência
Inegavelmente, encontrava-se perdido nos escombros

E à medida que as coisas se reestruturavam
Que casas eram refeitas e pessoas eram curadas
O povo da cidade retornava à sua rotina atroz
Já que era suficientemente obtuso para viver de outra maneira

E muitos anos depois, no afã de encontrar uma pista
Que indicasse qual a origem da afamada Torre
Um jovem começou a escavar suas ruínas
A despeito das pragas lançadas contra ele pelos anciãos

Após cavar vários metros e alcançar o alicerce da obra
Tal jovem defrontou-se com a desgraça e a explicação
Pois estava talhado na superfície da rocha
Que manteve a Torre de pé ao longo dos séculos:

A Torre não servirá ao homem, a altura o cega e escraviza;
Servirá aos homens, para ensinar-lhes que nada na vida
É tão grande que não possa ser igualmente repartido,
Assim me foi passado por Ardag Tuynev.

quinta-feira, 26 de março de 2009


(Obs.: foto meramente ilustrativa, ou seja, não estou aqui dizendo que Ellen Gracie é comedora de bola)

Não se surpreenda Parte Autora ou Ré
Ao deparar-se na mesa de audiência
Com Juíza forrada de ouro e brilhantes
Espargidos por anéis, brincos, colar...

Faz parte do lobby dos Causídicos
Mimosear a Magistrada jactanciosa
A fim de sensibilizar sua imparcialidade
Quando estiver a elaborar a sentença

Concordemos ser estatalmente incomum
Haver serventuário possuidor do caráter
Necessário para rejeitar uma bola de ouro

E não esqueça que no Poder Judiciário
Estão a fervilhar todos os interesses
Correntes nesta sociedade de consumo

quarta-feira, 25 de março de 2009


Retrato de Rosa Luxemburgo, morta em 1919 por paramilitares alemâes. Bertolt Brecht escreveu seu epitáfio:

"Aqui jaz
Rosa Luxemburgo,
judia da Polônia,
vanguarda dos operários alemães,
morta por ordem dos opressores.
Oprimidos,
enterrai vossas desavenças!"

.

XXX

.

Epitáfio de Tereza:

Tereza nasceu lésbica,
Nunca desejou experimentar um homem,
Tamanha era sua adoração pelas mulheres.

Colecionava num diário
O que lhe chamava a atenção em cada xoxota que amava,
Do corte às formas,
Do odor à profundidade;
Faltava erguer um templo,
E foi além.

Decidiu convencer cada homem homossexual que encontrasse
Das maravilhas da vagina,
Através da sua.

Para tanto,
Vendava-os,
Punha um filme pornô no qual homens gemiam
E pedia ao sujeito que saboreasse as sensações:
A temperatura,
A textura,
As vibrações,
A maciez,
A lubrificação natural.

Tereza trepou com homens por muito tempo,
Tendo angariado alguns ex-viados na sua jornada.

Satisfeita, não deixou de louvar a vagina nem por um segundo;
Enquanto fudia,
Pensava em Rosa Luxemburgo.

terça-feira, 24 de março de 2009

Estou doente;
Quem não está?!

Não esperarei a cura,
Morrerei em breve, antes que esteja absolutamente só,
Desiludido,
Amamentando a esperança da continuidade da vida!

Prefiro sentir-me vivo ao morrer,
Repleto de fomes, de dúvidas, de compaixão;
Em busca da personalidade, do adstringente amor,
Do conhecimento que desconheço.

Que me seja negada a morte por velhice,
Caduca, esquecida, entrevada,
Rodeada de crianças zombeteiras
E favores de filhos ingratos.

Desejo morrer agora,
Por sobre estes versos tristes de morrer!

segunda-feira, 23 de março de 2009

FOLHA DE SÃO PAULO, 14-03-2009, INCOERÊNCIA RELIGIOSA

Dráuzio Varela
Os males que a igreja causa em nome de Deus vão muito além da excomunhão de médicosAOS COLEGAS de Pernambuco responsáveis pelo abortamento na menina de nove anos, quero dar os parabéns. Nossa profissão foi criada para aliviar o sofrimento humano; exatamente o que vocês fizeram dentro da lei ao interromper a prenhez gemelar numa criança franzina.

Apesar da ausência de qualquer gesto de solidariedade por parte de nossas associações, conselhos regionais ou federais, estou certo de que lhes presto esta homenagem em nome de milhares de colegas nossos..Não se deixem abater, é precisoentender as normas da Igreja Católica. Seu compromisso é com a vidadepois da morte. Para ela, o sofrimento é purificador: "Chorai e gemei neste vale de lágrimas, porquevosso será o reino dos céus", não é oque pregam?
É uma cosmovisão antagônica àda medicina. Nenhum de nós dariatal conselho em lugar de analgésicospara alguém com cólica renal. Nossocompromisso profissional é com avida terrena, o deles, com a eterna.Enquanto nossos pacientes cobramresultados concretos, os fiéis que osseguem precisam antes morrer parater o direito de fazê-lo..Podemos acusar a Igreja Católicade inúmeros equívocos e de crimescontra a humanidade, jamais deincoerência. Incoerentes são os católicos que esperam dela atitudesincompatíveis com os princípiosque a regem desde os tempos da Inquisição.
Se os católicos consideram o embrião sagrado, já que a alma seinstalaria no instante em que o espermatozoide se esgueira entre osporos da membrana que reveste o óvulo, como podem estranhar que umprelado reaja com agressividade contra a interrupção de uma gravidez,ainda que a vida da mãe estuprada corra perigo extremo?.O arcebispo de Olinda e Recife nãocometeu nenhum disparate, agiuem obediência estrita ao Código Penal do Direito Canônico: o cânon 1398 prescreve a excomunhão automática em caso de abortamento.
Por que cobrar a excomunhão do padrasto estuprador, quando os católicos sempre silenciaram diantedos abusos sexuais contra meninos,perpetrados nos cantos das sacristias e dos colégios religiosos? Alémda transferência para outras paróquias, qual a sanção aplicada contraos atos criminosos desses padresque nós, ex-alunos de colégios católicos, testemunhamos?.
Não há o que reclamar. A políticado Vaticano é claríssima: não excomunga estupradores.Em nota à imprensa a respeito doepisódio, afirmou Gianfranco Grieco, chefe do Conselho do Vaticanopara a Família: "A igreja não podenunca trair sua posição, que é a dedefender a vida, da concepção atéseu término natural, mesmo diantede um drama humano tão forte,como o da violência contra umamenina". Por que não dizer a esse senhor que tal justificativa ofende a inteligência humana: defender a vida daconcepção até a morte?
Não seja descarado, senhor Grieco, as cadeiasestão lotadas de bandidos cruéis e deassassinos da pior espécie que contam com a complacência piedosa dainstituição à qual o senhor pertence..Os católicos precisam ver a igrejacomo ela é, aferrada a sua lógica interna, seus princípios medievais,dogmas e cânones. Embora existam sacerdotes dignos de respeito e admiração, defensores dos anseios daspessoas humildes com as quais convivem, a burocracia hierárquica jamais lhes concederá voz ativa.
A esperança de que a instituiçãoum dia adote posturas condizentescom os apelos sociais é vã; a modernização não virá. É ingenuidade esperar por ela..Os males que a igreja causa à sociedade em nome de Deus vão muitoalém da excomunhão de médicos,medida arbitrária de impacto desprezível. O verdadeiro perigo estáem sua vocação secular para apoderar-se da maquinária do Estado, pormeio do poder intimidatório exercido sobre nossos dirigentes.
Não por acaso, no presente episódio manifestaram suas opiniõescautelosas apenas o presidente daRepública e o ministro da Saúde.Os políticos não ousam afrontar aigreja. O poder dos religiosos não éconsequência do conforto espiritualoferecido a seus rebanhos nem defilosofias transcendentais sobreos desígnios do céu e da terra, elederiva da coação exercida sobre ospolíticos.
Quando a igreja condena a camisinha, o aborto, a pílula, as pesquisascom células-tronco ou o divórcio,não se limita a aconselhar os católicos a segui-la, instituição autoritáriaque é, mobiliza sua força políticadesproporcional para impor proibições a todos nós.[i]
http://www1. folha.uol. com.br/fsp/ ilustrad/ fq1403200923. htm

quarta-feira, 18 de março de 2009

Crônica da morte consumada

“A poética da morte é a da igualdade dos mortos. Nenhuma divergência quanto a nacionalidade, sexo, idade ou crença. Os mortos são absolutamente iguais como deveriam ser os vivos se a vida não os envaidecesse tanto, fazendo da distinção o valor maior...”

Gey Espinheira(para Arnaldo Xavier)

Dedicamos um dia à morte, não à morte de todos os dias que o profissionalismo das funerárias e dos coveiros enfrenta, dos mortos avulsos e uns tantos anônimos, mas à morte de todos, universal.
O lugar da morte é o cemitério. Em um mesmo cemitério persiste a hierarquia dos mortos quando em vida. Os mortos jamais são iguais, ainda que ao pó retornados, são o que foram em vida na expressão de suas representações na arquitetura de seus túmulos. Mas há os cemitérios para os diferentes, ou seja, cemitérios de ricos e cemitérios de pobres; mas para além dessa diferenciação, em um mesmo cemitério, como em uma cidade, há lugares centrais e periféricos.
No tempo em que se morria - e aqui quero dizer a morte trágica - desenganado pelos médicos, ou de modo abrupto por ataque cardíaco, morrer do coração, como se dizia; ou ainda de acidente, a morte tinha um significado especial. Era morte esperada ou surpreendente a desorganizar a família, os amigos, os vizinhos, enfim, a casa inteira, uma rua ou mesmo uma cidade. Morte sentida, inconsolável, “esconsolável consolatrix consoadíssima...”.
Hoje, a morte é clínica. A tecnologia vai às últimas conseqüências, invade pelos orifícios do corpo com sondas, tubos; perfura o corpo e o invade e máquinas, superórgãos, mantêm a vitalidade enquanto se espera que o corpo doente ou agredido se recupere. No caso, a morte é clínica. O organismo não respondeu, não suportou. O corpo, também máquina sujeita a reparações, e eis que a mecânica já não dá conta da vida. Morte sentida, sim, mas morte racional, burocrática, explicada nos mínimos detalhes. Morte sem mistério.
O ataque do coração é agora o enfarto. O enfarto não tem a mesma dramaticidade do ataque, do arrebentar do coração vítima de um ataque, do acometimento de um mal súbito. Súbito, abrupto! Ser atacado! Sofrer um ataque! E eis que, indefeso e desavisado, sobreveio o ataque do coração. Quão diferente de saber que teve um enfarto, um enfarte. Há mais dignidade quando se morre de um ataque do coração do que de um enfarto.
A medicina banalizou a morte e a fez calculável, previsível, de tal modo que quem morre é responsável por sua própria morte e deve ser recriminado por isso. Não se cuidou! Não ia ao médico! Etc. As mortes surpresa, as mortes homeopáticas de doenças incuráveis... A “dama branca”: “Por uma noite de muito frio/ A Dama Branca levou meu pai” (2). Como eram heróicas as mortes de antigamente! Morria-se em casa, na própria cama, como em um verso de Lorca. A morte era um ritual da vida e não um exercício médico. “Tudo é milagre/ Tudo, menos a morte. / Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres”. Mas não é da morte que queremos falar, mas do lugar dos mortos, os cemitérios.
RICOS E POBRES - Clarival do Prado Valladares é quem nos guia pelos cemitérios de Salvador: Campo Santo, construído em 1841, onde se encontram túmulos de pessoas ilustres e esculturas de renomados artistas, mas destaco o comentário de Clarival: “Todavia, para além dessas quadras e dos grandes muros de carneiros, começam as quadras de enterro de pobre cercado de pitangueiras e descendo a encosta até a grota e o bambuzal.
Nessas, o Campo Santo assume um espírito diverso, comparável às ribanceiras das Quintas (Cemitério das Quintas dos Lázaros), onde as cruzes das covas rasas parecem roçado de mandioca”.
Os cemitérios são erguidos em elevações, talvez a busca dos céus, metáfora topográfica da fuga do abismo. “A antiga Quinta dos Lázaros, propriedade dos primeiros jesuítas, tinha um altiplano de morro, suficiente e muito adequado para se fazer uma verdadeira necrópole, nos conceitos sanitaristas da época” (ibid. p.115). Na semeadura do Cemitério dos Humildes de São Francisco está a de Aninha, “a grande ialorixá do candomblé do Retiro de São Gonçalo, o Axé do Opô-Afonjá”, e continua Clarival, referindo-se ao túmulo: “na quadra da Irmandade de São Benedito, próxima às dos ciganos longevos e de frades franciscanos de nome alemão, com inscrição sofisticada que em nada permite identificá-la em sua notável personalidade religiosa”:
“Aqui descança/ Eugênia Anna Santos/ A 13-7-1869/ A 3-1-1938/ Amastes desmedidamente aos teus/ E as saudades que/ Deixaste não terão mais fim./ Uma prece.”
A poética da morte é a da igualdade dos mortos. Nenhuma divergência quanto à nacionalidade, sexo, idade ou crença. Os mortos são absolutamente iguais como deveriam ser os vivos se a vida não os envaidecesse tanto, fazendo da distinção o valor maior; mas esta é uma outra história...
Clarival vai mais além: “A importância social das profissões artesanais se demonstra no espírito de classe que fez erigir nos cemitérios da Quinta dos Lázaros imponentes mausoléus coletivos, por exemplo: o da Sociedade Montepio dos Artífices, da Sociedade Bolsa de Caridade, da Associação Tipográfica, do Montepio dos Artistas, e muitos outros, ao jeito e aparência de velhos sobrados, uniformes e serenos, de platibanda ou de beiral, alguns avarandados, outros com jardim de frente gradeado, guardando seus carneiros como janelas fechadas das casas antigas de Salvador”.
Mas vamos mais adiante neste passeio pelas ruas, avenidas e quadras das cidades dos mortos. Vamos, com Clarival, pelos cemitérios de pobres: “o cemitério de pobre continua paisagem. Paisagem de leiras marcadas de cruzes, pintadas e inscritas...” (ibid. p. 130), algumas, como nos lembra João Cabral de Melo Neto: “... as caídas cruzes que há/ são menos cruzes que mastros/ quando a meio naufragar”.
Clarival nos ensina a diferença entre cemitério de rico e cemitério de pobre: “Cemitério de pobre não tem inscrições complicadas, brazões melancólicos, jactância catedralesca. Tem legendas sem gramática, com grafia de S ao contrário, com H onde não deve e sem H onde devia”. (Ibit. P. 131).
“Maria Jaz/ De Antonio Esposa/ Benedito Anjo/ Sem Hacordar/ Severo Muitos Filhos/ Lhe Tomam a Benção/ Pureza Mãe/ De Irene Uma Flor”
Licença poética na morte e para a morte, o sentimento humano puro e simples, como na saudade infinita do poema que lembra a menina morta:
“Rosalva Rosendo dos Santos/ De Rosendo e Rosa dos Santos/ Nascida em Salvador/ De Todos os Santos”.
Infelizes os mortos sem sepultura, invisíveis e silenciosos. Os que têm pátria, semeados em lugar conhecido e seguro, estão sempre a espera e sempre nos dizem coisas quando estamos com vontade de morrer.

terça-feira, 17 de março de 2009


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Após ler mancheia de bons poemas
Escrita por ainda menor soma de vates
Pude sorver o substrato dest`arte

À um grande colega, cara de ator de Hollywood,

Amigo: Xis

Não posso deixar que a vida me limite ao medo.
Eu sou o limite de mim mesmo,
o oco, o avesso preenchido.

Sou o tudo e o nada.
Tudo que a mim desejo.
Sou aquilo que sonho
Sou hoje o que fiz ontem.

Xixi no ralo - Carnaval 2009/RJ

segunda-feira, 16 de março de 2009

Poetiza Maria de Queiroz

Eu nunca fui uma moça bem-comportada.
Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços.
Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo.
Não estou aqui pra que gostem de mim.
Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.
E pra seduzir somente o que me acrescenta.
Adoro a poesia e gosto de descascá-la até a fratura exposta da palavra.
A palavra é meu inferno e minha paz.
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que me deixa exausta.
Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo.
Sei chorar toda encolhida abraçando as pernas.
Por isso, não me venha com meios-termos,com mais ou menos ou qualquer coisa.
Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar...
Eu acredito é em suspiros,mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis,em alegrias explosivas, em olhares faiscantes,em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem pra vida da gente.
Acredito em coisas sinceramente compartilhadas.
Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma,no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo.
Eu acredito em profundidades.
E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos.
São eles que me dão a dimensão do que eu sou

, então direi nestes termos:

A jovem denota estar distraída
Ao deitar-se de bruços apreciando as pancadas do mar.

No entanto, o mar é somente o fundo do seu verdadeiro pensamento,
Ela espia meu contorcionismo
A fim de percebê-la mais intimamente
E faz-se perceber amplamente
Afastando aos milímetros seus joelhos forrados de areia.

Alheada,
Apetece-a o desejo de manter-me escravo -
Apanhado e apanhando apenas para olhá-la,
Apetecê-la,
Tipo eunuco abanando a ama saída do banho.

No entanto, estou ali por livre encanto e pleno deleite,
Vendo o vento arrepiar-lhe os miúdos cabelos,
Refrescando suas partes, temperando-a!
Vendo o caminhar das nuvens sobre suas costas,
Ambicionando suas formas, aventurando adentrar-lhe o epicentro.

É como se estivesse nua
Atrás duma parede de vidro,
Num pôster, num desfile,
Ou em qualquer outra situação na qual entendemos a magistral função dos olhos.

Seria como se estivesse algemado na cama
E ela executando uma massagem tailandesa,
Estapeando-me, cobrando que a olhasse nos olhos.

Nestes termos,
A jovem é malvada,
Desumana, mesquinha!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sessão puta-q-pariu

Álvaro de Campos

"Tabacaria"

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? 0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim?
Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente 0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz. 0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.

segunda-feira, 9 de março de 2009




sexta-feira, 6 de março de 2009



Amo também com os olhos
Sem, contudo, abdicar do coração
São eles as portas de minh’alma
Quem principia o compor da paixão

E como Cupido mais que arqueiro
Miraram-se obcecados sobre você
Para tê-la irradiada dentro do peito
Iluminando-me com seu incandescer

Meu querer é então capricho das íris
E sua beleza a pedra luminescente
Ofuscadora de quaisquer outras beldades

Posso ver o meu amar só em te olhar
Seja concentrada no correr da aula
Seja amando-me deitada na eternidade

quarta-feira, 4 de março de 2009


Minha fé faleceu...
Tanto busquei a resposta
Para sobrar-me o nada,
Sem cognome, sem vestes!

Agora,
Enfim agora,
Posso dizer: Estou espiritualmente livre,
Sem a culpa judaico-cristã,
Sem o sobretudo da morte!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Caçador de mim

Composição: Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão

Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Atrasa forte gota d’água
Atrasa
Tua queda para além do meu nariz
Escorre - doce calma
Segue teu caminho por sobre a cicatriz

Atrasa gota d’água
E na descida contorna meu sorriso
Atrasa
Chegue ao canto
Encontre a alma
Penetre o labirinto

Atrasa minha gota d’água
Às gotas me eterniza
Mostra-me o ser nuvem
Afunda-me n’água - flor de gaia
E o mais nada e o mais nada e o mais nada e o mais nada
Todo boa noite é igual
“Boa noite
Te amo!”

Todo bom dia é igual
“Bom dia meu amor!”

Quanto amor há entre a noite e o dia
Que mesmo após horas sonhando
Lembrasse de me amar
E me sorri de olhos fechados

Quanto amar há entre o dia e a noite
Que após tanto desgaste e cansaço
Me olha aflita
E relaxa ao meu lado

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

.................................................................Ensaio


Não me ama
Quem não me entende

Quem não enxerga minha natureza
De querer bem

Quem não se reconhece em mim
Em si

E não vê que sou feliz
Infelizmente!

Não amo
Quem não entendo

Quem não demonstra natureza
De querer bem

Quem se desconhece em todos
Para si

E não vê que é infeliz
Infelizmente!

Me amo
Pois hoje me entendo

Enxergo e demonstro minha natureza
De querer bem

Me reconheço em mim
Em-si

E vejo que sou feliz
Felizmente!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Manisfesto em Favor da Ética e Discrição

Aprioristicamente é de suma importância explanar as finalidades desta declaração. O intuito é consagrar, a patamar máximo, o respeito nas relações profissionais. É meio pelo qual, a voz de um único aluno, se faz ouvir no seio acadêmico. Por isto aufere igualdade substancial em secular relação hierárquica Alunos versus Professor.
Institucionalmente o corpo docente é dotado de algumas prerrogativas. Instrumento hábil a desenredar e multiplicar os conhecimentos merece inefável respeito e consideração.
Quiçá esta forma de expressão é a única via eficaz de direito de resposta e quem sabe de conscientização geral. Vale ressaltar que o fim aqui colimado é homenagear a dignidade da pessoa humana pelo uso da ética e da discrição profissional. É, assaz, conclamar que nenhuma superioridade hierárquica deve afadigar o processo de sedimentação intelectual.
Conquanto faz-se necessário excomungar anátemas de domínio público e notórios. Logo, é impossível consentir, embora do lado hipossuficiente da relação, sucessivas e reiteradas vexações.
Todavia a crítica, aqui delineada, resume-se a aspecto peculiar. Não cabe, portanto, adentrar em seara estritamente profissional ao revés neste ponto é intato o saber jurídico, a competência e o afinco no cotidiano acadêmico. Contudo a labuta, às vezes, se faz árdua e as decepções ao longo de uma carreira por vezes maculam o ideal perseguido. A este não concerne, de fato, a desconfiança exacerbada, a inflexibilidade demasiada e a contumaz acidez em sala de aula.
Ocorre que o infausto que vos fala é considerado um péssimo aluno. Foi, assim, julgado pelas provas colhidas na pasta funcional, isto é: um péssimo histórico escolar foi suficiente para denegrir de imediato a pessoa alheia.
É pertinente tamanha sanção?
E como se não bastasse, questões familiares e particulares vieram à tona em discurso eloqüente, porém dissonante, prolatado frente a duas turmas reunidas num sábado de sol.
O motivo? Tudo em face de um ato-falho: vir de bermuda em pleno sábado. Mas o óbvio é que a norma universitária é sabida por todos. E alegar desconhecimento não é meio para se escusar nem, tampouco, é o objetivo. Ao invés é admitir o erro. Porém por este ou qualquer pecado o aluno não deve ser transmutado a uma via crucis.
Então é registrada neste documento a premente necessidade de ética e discrição. Isto não quer dizer tolerância. Mas na aplicação das sanções cabíveis aos supostos incultos e péssimos alunos não está o deboche nem a execração pública. Destarte o simples fato de pedir licença a um aluno mal trajado não constitui ofensa alguma. Não obstante explicitar perante a turma questões pessoais e até familiares é um mal-uso das prerrogativas funcionais. E é este o único ponto reprovável e lamentável em excelente profissional. Ademais, não citado para utilizar-se dos mesmos subterfúgios consignados em classe quando referências pessoais são escarafunchadas, porém sem denominá-las objetivamente.
Através, então, deste instrumento é escopo primaz conjurar atitudes inócuas e até prejudiciais ao aprendizado. Jamais será meio de confronto, galhofa ou qualquer injuriação. Ao contrário a gana, aqui entoada, é pela abolição de meios, porventura anti-éticos, na casa guardiã do saber que é a Universidade.
(Saulo Silva)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009


(de autoria de Vito D'Alessio e Juvenal Irene, monumento em homenagem ao trabalhador Portuário, Santos)
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Portuário
Nas idas e vindas
O mesmo tropo em trânsito:
Velhas músicas
Marés intermináveis
Pés desterrados

Sob névoa e ante rocha:
A âncora dos livros sujos
O dilúvio dos questionamentos insones
O clarear dos olhos ensimesmados

Já não surgem rizomas ou
Superestruturas
Deve haver outro algo
Outro mundo sem chaminés
Outro ninguém

Não remo
Não venta
Caio
Para caminhar sobre as águas no corpo de 20.ooo formigas
Enfileiradas
Se mordendo
Se sustentando
Se soltando numa azáfama

O Direito à Preguiça

INTRODUÇÃO

O Sr. Thiers, no seio da Comissão sobre a Instrução Primária de 1849, dizia: "Quero tornar a influência do clero todo-poderosa, porque conto com ele para propagar esta boa filosofia que ensina ao homem que ele veio a este mundo para sofrer e não aquela outra filosofia que, pelo contrário, diz ao homem: ‘Goza’." O Sr. Thiers formulava a moral da classe burguesa cujo egoísmo feroz e inteligência estreita encarnou.
A burguesia, quando lutava contra a nobreza, apoiada pelo clero, arvorou o livre exame e o ateísmo; mas, triunfante, mudou de tom e de comportamento e hoje conta apoiar na religião a sua supremacia econômica e política. Nos séculos XV e XVI, tinha alegremente retomado a tradição pagã e glorificava a carne e as suas paixões, que eram reprovadas pelo cristianismo; atualmente, cumulada de bens e de prazeres, renega os ensinamentos dos seus pensadores, os Rabelais, os Diderot, e prega a abstinência aos assalariados. A moral capitalista, lamentável paródia da moral cristã, fulmina com o anátema o corpo trabalhador; toma como ideal reduzir o produtor ao mínimo mais restrito de necessidades, suprimir as suas alegrias e as suas paixões e condená-lo ao papel de máquina entregando trabalho sem tréguas nem piedade.
Os socialistas revolucionários têm de recomeçar o combate que os filósofos e os panfletários da burguesia já travaram; têm de atacar a moral e as teorias sociais do capitalismo; têm de demolir, nas cabeças da classe chamada à ação, os preconceitos semeados pela classe reinante; têm de proclamar, no rosto dos hipócritas de todas as morais, que a terra deixará de ser o vale de lágrimas do trabalhador: que, na sociedade comunista do futuro que fundaremos "pacificamente se possível, senão violentamente", as paixões dos homens terão rédea curta, porque "todas são boas pela sua natureza, apenas temos de evitar a sua má utilização e os seus excessos"1, e só serão evitadas pelo seu mútuo contrabalançar, pelo desenvolvimento harmônico do organismo humano, porque, diz o Dr. Beddoe, "só quando uma raça atinge o seu ponto máximo de desenvolvimento físico é que ela atinge o seu mais elevado nível de energia e de vigor moral". Era esta também a opinião do grande naturista Charles Darwin2. A refutação do direito ao trabalho, que reedito com algumas notas adicionais, foi publicado no semanário L'Egalité de 1880, segunda parte.

Prisão de Sainte-Pélagie, 1883.P. L.

1 Descartes, As Paixões da Alma.
2 Doutor Beddoe, Memoirs of the Anthropological Society; Ch. Darwin, Descent of man.

Download do livro: http://www.4shared.com/file/43687655/96367a0f/Paul_Lafargue_-_O_Direito__Preguia.html?s=1

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sessão puta-q-pariu


Manoel de Barros



A poesia está guardada nas palavras.
É tudo que eu sei.
Meu fado é não entender quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Eu não cultivo conexões com o real.
Para mim poderoso não é aquele que descobre o ouro.
Poderoso pra mim é aquele que descobre as insignificâncias do mundo e as nossas.
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

SEMINÁRIO DO REUNI APONTA MARCOS PARA A AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA

No último dia do 6º Seminário do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), realizado em São Paulo, representantes das universidades, da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Ministério Público apresentaram propostas para melhorar os mecanismos de controle e autocontrole da universidade pública a partir da idéia de uma efetiva autonomia universitária. Para o reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar de Almeida Filho, a solução passa pela criação e implementação de marcos regulatórios que separem as universidades de outros entes públicos em assuntos como o sistema jurídico, quadro de pessoal, regime licitatório e dotação orçamentária. Com relação aos investimentos, o reitor propôs a criação de um fundo de financiamento especial para a educação superior e a possibilidade de incorporação de receita própria. Naomar também sugeriu pactos de metas plurianuais e a implementação de planos de desenvolvimento institucional com vistas ao desenvolvimento de cada universidade e do país. O reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ivonildo Rego, lembrou que várias leis e outros instrumentos legais já prevêem a autonomia, mas que ainda necessitam de regulamentação, principalmente quanto ao controle interno. "Temos um vasto arcabouço legal já aprovado pelo Congresso Nacional, sistemas de autocontrole internos e um nível de independência que não se verifica em nenhuma instituição pública", disse. "O desafio, agora, é aperfeiçoar esses instrumentos para consolidar a autonomia." Para o representante da Controladoria-Geral da União, Valdir Teixeira, o principal problema pode estar na falta de articulação entre os instrumentos de controle interno que a universidade tem. "Os organismos não podem atuar apenas periodicamente", afirmou. "O trabalho tem de ser sistemático e ininterrupto, de forma a convencer toda a comunidade acadêmica a participar ativamente e a inserir todos numa atividade cotidiana de controle." Raquel Branquinho, procuradora do Ministério Público Federal no Distrito Federal, pontuou que a busca pela autonomia universitária plena não pode fugir das regras de direito público, mesmo que haja uma flexibilização das normas vigentes. "A transição para a autonomia plena deve ser feita por meio dos mecanismos legais possíveis. Não podemos buscar uma verdade absoluta, mas a reconstrução de uma universidade dentro das regras do direito público para uma maior eficiências nas ações", disse. (Fonte: MEC)

Eu e Xis, entre uma cerveja e outra



Haja palavra para começar a poesia
Haja riqueza de rima
Haja sina

Ainda assim
Cada palavra que sai é pouca
Para demonstrar o esforço do velho rouco
Que calado admira da árvore o toco
Enquanto palpita no queixo o indicador

Catastroficamente deixa
A imagem em si
E se pergunta o que vê:
O cheiro do pó da madeira
As eiras e beiras no alto do casarão
As crianças
O balanço improvisado

E mais belo vem a ser o balançar dos cabelos
E os seus vão esbranquiçados
Cansados como cometas
Letárgicos e distraídos sobre a terra fúnebre
Cheirando a café
E a seqüência do trago de cigarro que fecha o entendimento

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Je ne regrette rien


Composição: Charles Dumont e Michel Vaucaire

Non! Rien de rien ...
Non! Je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait
Ni le mal tout ça m'est bien égal!

Non! Rien de rien ...
Non ! Je ne regrette rien...
C'est payé, balayé, oublié
Je me fous du passé!

Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n'ai plus besoin d'eux !

Balayés les amours
Et tous leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...

Non! Rien de rien ...
Non! Je ne regrette nen ...
Ni le bien, qu'on m'a fait
Ni le mal, tout ça m'est bien égal!

Non ! Rien de rien ...
Non! Je ne regrette rien...
Car ma vie, car mes joies
Aujourd'hui, ça commence avec toi!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Poeta: Xis

Sigo...
sobrevivendo a vida
chorando na medida...

da dor que acho que sofro
do mal do pensar
da flor eterno besouro
feio contrastar

Sigo...digo...insisto...
pilo soco amarro
engato travo me engasgo

co'amor
Companheiros,

Encontra-se à disposição de todos os lutadores, militantes dos movimentos sociais, organizações socialistas, centros e grupos de estudos marxistas, estudantes, trabalhadores e todos que se colocam no campo do marxismo, o site do Laboratório de Estudos e Pesquisas Marxistas (LEMARX). O grupo surgiu em agosto de 2007, sendo constituído por professores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), estudantes e militantes. O grupo se propõe não só compreender as relações sociais em que estamos inseridos, mas solidarizar- se e associar-se aos movimentos sociais. Portanto, o referencial do grupo é o materialismo histórico e tem como meta a luta pelo socialismo. No site, os interessados poderão consultar as atividades desenvolvidas ou em andamento pelo grupo, como debates, textos, trabalhos, cursos e ações junto aos movimentos.

ENDEREÇO DO SITE: http://www.lemarx.faced.ufba.br/

Um abraço fraternal

Sandra Siqueira
Professora da Faculdade de Educação da UFBA
LEMARX - BAHIA

o céu azul
sem eclipse
sem nuvens
sem pássaros
sem arco-íris
sem a junção com o mar
sem as descargas da tempestade
nem mesmo o sol
nascendo ou se pondo

o céu azul
sem aviões
sem fumaça
sem leviatãs
sem apocalipse
sem trapezistas
sem escudo anti-mísseis
nem mesmo Jesus
subindo ou se sentando

somente a cor azul aos olhos
insurgindo em luz

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O Parto - Poeta: Pedro Alijó

O sonho suscita anamnese
O inverno, a neve, o busú
Olho e já não enxergo mais
Não há objetivos, não há metas
O adiar passa a perturbar
e os dias continuam a esperar
O êxtase.

Na moral, prefiro o parto.
Parir um texto, cagar constipado.
Catar os cacos de existência (...)
Feito faca cega, pedinte
Sem malícia, porém obstinada.
Apenas eu.

Refabricou-se a matéria
Transubstanciando o eu
Só agora eu sei
Como faca no pão
Cortar sem cortar-se.

Viver sofrendo,
antes de sofrer sem viver.
O olhar psicanalítico, perspicaz.
De Lince, vestido de luneta.
Busca algo, ao léu.
Sem lógica, com uma certeza:
Fará falta.

Prag - Berlin, 01.02.2009

http://www.vestido-de-luneta.blogspot.com/

O seu Amor

Conposição: dizem q é do Gil

O seu amor
Ame-o e deixe-o livre para amar
Livre para amar
Livre para amar

O seu amor
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser

O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz

O seu amor
Ame-o e deixe-o ser o que ele é
Ser o que ele é
Ser o que ele é

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009


Por que tá escondendo essas roupas, minha mãe?

Por que a pressa, minha mãe?
.
Por que o nervoso, meu pai?

Por que aqueles moços tão nos seguindo, meus pais?

Por que vocês seguram meus pais, moços?

Por que não soltam meus pais, moços?

Não tão vendo que minha mãe tá grávida?

Por que não manda eles pararem, meu pai?

Por que chora, minha mãe?

Não chore minha mãe!

Pra onde vamos nesse carro, minha mãe?

Pra onde levaram meu pai?

Tragam meu pai de volta!

Que lugar é esse, minha mãe?

Por que colocaram meu pai no chão?

Por que gritam com você, minha mãe?
.
Por que brigam com meu pai?

Quem é essa moça, minha mãe?

Por que chora tanto, minha mãe?

Por que meu pai resmunga, minha mãe?

Pra onde tão levando meu pai?

Tragam meu pai!

Não levem minha mãe!

Pra onde tão levando minha mãe?
.
Tragam minha mãe, por favor!

Pra onde tá me levando, moça?

Solte meu braço, moça!

Essa não é minha casa, moça!

Você não é minha mãe, moça!

Onde tão meus irmãos?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Você pode dialogar com Maffesoli

Formule uma questão para que ele responda durante a aula inaugural da UFBA cujo tema será "O Reencantamento da Universidade" em 02.03.2009 às 9h no Salão Nobre da Reitoria da UFBA com transmissão direta on-line pela Internet.

Envie sua pergunta para maffesoli@ufba.br

O sociólogo francês Michel Maffesoli é Professor Titular da Universidade René Descartes (Sorbonne, Paris V), onde dirige o Centro de Estudos sobre o Atual e o Cotidiano e o Centro de Pesquisas sobre o Imaginário. Editor da revista Sociétés, Maffesoli é autor de vasta obra publicada em diversos idiomas, inclusive o português. Os mais recentes são: O ritmo da vida: variações sobre o imaginário pós-moderno (Record 2007); Entre o Bem e o Mal (Instituto Piaget 2006); Elogio da Razão Sensível (Vozes 2005 ); A Transfiguração do Político (Instituto Piaget 2004); O Tempo das tribos ou o declínio do individualismo na sociedade de massas (Forense 2004).

O pensador tem se interessado pela contemporaneidade, de modo crítico e criativo, valorizando questões pouco consideradas por muitos de seus colegas, como a teatralização da vida cotidiana, o narcisismo de grupo (ou o novo tribalismo), o cotidiano, o conhecimento comum, o nomadismo e o vitalismo, sem temer em usar a expressão pós-modernidade, para tratar do fracasso dos grandes sistemas explicativos do mundo, da vida e do homem, defendendo uma sociologia relativista e compreensiva.

Os estudantes interessados em dialogar com o professor Michel Maffesoli, sobre um dos temas de sua obra, durante a aula inaugural do ano letivo da UFBA, em 2 de março de 2009, no Salão Nobre da Reitoria da UFBA, a partir das 9h, podem encaminhar uma questão para lhe ser dirigida (texto justificado em times new roman 12, interlinha 1,5, com o máximo de 10 linhas). As cinco melhores serão selecionadas para que seus autores participem do debate que será realizado logo após a conferência de Michel Maffesoli.

Programação

Apresentação conjunta do Madrigal da Escola de Música (Regente – Leandro Gazineu) e do Coral Vozes Reveladas da Escola de Dança - UFBA (Regente – Prof. Sérgio Souto).
Abertura da cerimônia pelo Magnífico Reitor Naomar Almeida Filho.
Apresentação do Professor Convidado pelo Prof. Armindo Bião (UFBA, Erasmus Mundus).
Aula magistral – O reencantamento da Universidade – Michel Maffesoli (Université René Descartes Paris V). Tradução do Prof. Armindo Bião.
Debate com cinco alunos da UFBA.
Encerramento da cerimônia pelo Magnífico Reitor.

Mestre de Cerimônia: Prof. Sérgio Farias (UFBA, CRILUS Paris Ouest Nanterre La Défense ).

Apoio: TV UFBA; CPD-UFBA; NUTS-Complexo HUPES e RNP-RUTE.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


Fotografia: Mariana David http://www.flickr.com/photos/marianadavid/


Serás que me olhas
Me apertas
Me incitas?

Qual serás
A esfinge do teu desejo
Dos teus olhos
A conquista?

Qual serias meu interesse
Rápido
Qual serias?

Serias outro
Não fosse este
Serias louco
Se serias!

Como foi criada a vagina

Mário Quintana

Sete bons homens de fino saber
Criaram a vagina, como pode se ver:

Chegando na frente, veio um açougueiro
Com faca afiada deu talho certeiro

Um bom marceneiro, com dedicação
Fez furo no centro com malho e formão

Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno
Forrou com veludo o lado interno

Um bom caçador, chegando na hora
Forrou com raposa, a parte de fora

Em quinto chegou, sagaz pescador
Esfregando um peixe, deu-lhe o odor

Em sexto, o bom padre da igreja daqui
Benzeu-a dizendo: 'É só pra xixi!'

Por fim o marujo, zarolho e perneta
Chupou-a, fodeu-a e chamou-a...Buceta!

Lá vem


O projeto "Sua Nota é um Show" dá início a sua nova edição com o cantor francês, filho de pai galego e mãe basca, e que apresenta seu último álbum, La Radiolina, uma mistura de reggae, hip hop, música caribenha, flamenco e bolero, além da influência roqueira do Clash, que está presente em seus trabalhos desde o tempo em que ele cantava no grupo Mano Negra.

Manu Chao, que já esteve no sertão do Ceará e morou no mangue do Recife, canta em inglês, francês e espanhol, é acompanhado pelos músicos David Bourguignon (bateria), Gambeat (baixo), Madjid (guitarra), Garbance (percussão), Julio Lobos (teclados) e Ângelo.
Dia 13/02 - Sexta
Horário: 18h30
Preço: a confirmar - $$$$
Ladeira da Fonte - s/n°
Campo Grande
Fone: 3535-0600

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009



Me rendo
Após os poemas
Seguidos de silêncio

Rendo-me à poesia
Pano das noites caladas
Bilro confesso

Rendo palavras
Encarnando-as de força
Noando-as - desmanchar de fantasias

Rendo
Remoções
Me remendo

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Magistrado profere decisão em forma de verso

Fonte: um e-mail desses!

O Juiz de Direito Afif Jorge Simões Neto, da 2ª Turma Recursal Cível, proferiu voto em forma de verso, em julgamento realizado na manhã dessa quarta-feira (21/1). A ação, que tramitou perante o Juizado Especial Cível da Comarca de Santana do Livramento, trata de pedido de indenização por dano moral.

O autor da ação, patrão do CTG Presilha do Pago, afirmou ter sido ofendido em sua honra pessoal durante pronunciamento feito por Conselheiro Fiscal da 18ª Região Tradicionalista durante o uso da tribuna livre da Câmara de Vereadores. O ofensor teria dito que o Patrão não prestava conta das verbas públicas recebidas para a realização de eventos. Salientou que as afirmações foram publicadas também no jornal local A Platéia. O réu negou as ofensas.

A decisão no Juizado Especial Cível de Livramento condenou o Conselheiro ao pagamento de R$ 1,5 mil. Houve recurso à Turma Recursal. Para o relator, a ofensa não aconteceu (veja integra do voto abaixo). Os Juízes Eduardo Kraemer e a Leila Vani Pandolfo Machado acompanharam o voto do relator, reformando a decisão de 1º Grau para negar o pedido de indenização.

"Este é mais um processo
Daqueles de dano moral
O autor se diz ofendido
Na Câmara e no jornal.

Tem até CD nos autos
Que ouvi bem devagar
E não encontrei a calúnia
Nas palavras do Wilmar.

Numa festa sem fronteiras
Teve início a brigantina
Tudo porque não dançou
O Rincão da Carolina.

Já tinha visto falar
Do Grupo da Pitangueira
Dançam chula com a lança
Ou até cobra cruzeira.

Houve ato de repúdio
E o réu falou sem rabisco
Criticando da tribuna
O jeitão do Rui Francisco

Que o autor não presta conta
Nunca disse o demandado
Errou feio o jornalista
Ao inventar o fraseado.

Julgar briga de patrão
É coisa que não me apraza
O que me preocupa, isso sim
São as bombas lá em Gaza.

Ausente a prova do fato
Reformo a sentença guerreada
Rogando aos nobres colegas
Que me acompanhem na estrada.

Sem culpa no proceder
Não condeno um inocente
Pois todo o mal que se faz
Um dia volta pra gente.

E fica aqui um pedido
Lançado nos estertores
Que a paz volte ao seu trilho
Na terra do velho Flores."

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Andarilho I

Poeta Saulo Silva

Olha o tempo
Nem chuva, nem sol
Olha a vida
A sede, as feridas
Olha a magia
Todo instante é dia
Nascer e morrer
Atreva-se a viver
Transforme o tédio
Em alegria...
Esqueça o irrelevante
Deixe a melancolia
Suba naquela arvore
Tente novamente...
Mais tarde
Será tudo mais lentamente
Por isso cante
Depois plante
A terra e a semente
Serão suas amigas
Grite o mais alto
Não pare e pare
Escute o silêncio
E seus passos
Andarilho do cotidiano
Corredor do asfalto!!!

Ao meu pai


Não amo porque quero
Amo porque amo
E porque reflito
E sinto os olhares que ninguém sabe dizer

Mas não porque quero
Ou espero
Mas sim, porque vejo
E sinto os corpos que dizem sem saber

Amo a única certeza
Por que amar?
Por que parir?
Senão
Para dizer de olhos sinceros a emoção terna de sentir

Amo com afeto
E todo ele vai além de mim
Pois se não for o amar
Qual será a verdadeira razão de existir?
Encontro com gente, converso, falo de poesia. Outro dia encontrei Edinho Gouveia - poeta, fizemos um poema e agendamos o quebra-pote do quebra-bunda!

Leio a pilha de lixo
entre os dedos dos pés
deitado em uma cama de hospício
enxergo títulos de autores mal-vistos
Wilhelm Reich, Allan Poe, Baudelaire,
Paulo Garcez de Sena, Carlos Anísio Melhor,
Ametista Nunes...

xxxxxxxxxxxxxxxx

Poemas de Edinho Gouveia

"Derby e Hollywood"

estava tão solitário
que acendi dois cigarros
pra me fazer companhia

"Num bar de madrugada"

dois rapazes no banheiro masculino
um rapaz no banheiro feminino
será que algúm deles é viado
talvez, mas na história real
dois deles estavam cheirando pó
e um cansou de achar ocupado

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Poetiza Maria Cecília e poetiza...

Mergulha nesse mar de letras
e faz-se homem!
Inacabado é teu ser...
Mergulha neste livro aberto, nesse mar repleto, nesse mar imenso
Imenso conhecimento!
Contempla esse mar esverdeado
Lê o teu livro calado
pois em harmonia estão seus pensamentos
e os ventos desse mar sedento
sedento de leitores como ti, de poetas como ti...
Põe-se o sol dos teus olhos
e vive só de ler
e fim!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Mahatma Gandhi

Fonte: Loro Doido

Quem deserta das coisas materiais mostra boa vontade- mas não prova verdadeira compreensão.
Por que foge?
Por que deserta?
Porque se sente fraco e receia cair; mas o temor é escravizante.
Plenamente liberto e livre é somente o homem que, depois de se consolidar definitivamente no mundo espiritual, volta ao mundo material sem se materializar; o seu reino não é daqui, mas ele ainda trabalha aqui, como se fosse o mais profano dos profanos.
Somente um homem plenamente espiritual pode admitir aparências de materialidade sem desmentir a sua espiritualidade.
De um homem que nada espera do mundo, tudo pode o mundo esperar.

Agonia - Poeta: Kleuber Medeiros


Eckenberger


E dá uma agonia!
Vezes de noite,
Noutras de dia
Não se sabe como seria
Senão, agonia
Tão constante
Sonele companhia
Desquite?
Emerge em prosa, poesia
Porém, insolente, egoísta
Hipocrisia...
Não fosse eternamente
Verdadeiramente, demagogia!
a poesia
me faz amar a dor

maldita!

Wilhelm Reich






Trecho extraído do seu livro "Escute, Zé-ninguém!":


E para os ditadores e tiranos, os astuciosos e malévolos, os abutres e hienas, protesto com as palavras de um antigo sábio:


Plantei neste mundo o estandarte de palavras sagradas.
Muito depois de estar murcha a palmeira
e de se ter esfarelado a rocha;
muito depois de monarcas deslumbrantes
terem desaparecido como o pó de folhas secas,
mil arcas levarão minha palavra
pelos dilúvios afora:
Ela prevalecerá.

Poesia de Pobre

Fonte: um e-mail desses!!!

Uma obra prima da poesia brasileira, composta por uma aluna do Colégio Bom Conselho (Fortaleza-CE).

Pássaro de rico é canário,
pássaro de pobre é urubu,
rabo de rico é ânus,
e rabo de pobre é cú.

Moça rica é bacana,
moça pobre é xereta,
a periquita da rica é vagina,
a da pobre é buceta.

Rico correndo é atleta,
pobre correndo é ladrão,
ovo do rico é testículo,
e do pobre é culhão.

A esperança do rico vem,
a do pobre já se foi,
a filha do rico menstrua,
a do pobre fica de boi.

O rico usa bengala,
o pobre usa muleta,
o rico se masturba,
o pobre bate punheta.

Mas a vida é assim mesmo,
seja no norte ou no sul,
o rico toma champanhe
e o pobre toma no cú.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Êêê melancolia arruinada...

Lamento Sertanejo

Composição: Dominguinhos / Gilberto Gil

Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga e do roçado
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado

Por ser de lá
Na certa, por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão, boiada caminhando à esmo

Falando de Eu...

Sem título

Composição: Folclore Baiano

Eu sou uma fruta gogoia
Eu sou uma moça
Eu sou calunga de louça
Eu sou uma jóia

Eu sou a chuva que molha
Que refresca bem
Eu sou o balanço do trem
Carreira de Tróia

Eu sou a tirana bóia
Eu sou o mar
Samba que eu ensaiar
Mestre não olha

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


(foto: Mariva Tomé)
\
/
Meus eus, cansados de mim,
Acertam um encontro

Desejam conversar, auscultar os pensamentos
E entender por que o ser de fora
Não corresponde aos eus de dentro
.
E resolvem formar uma roda
Voltam-se para o centro, apesar de um eu voltar-se para fora
Mas antes de iniciarem a discussão
O Anarquista implica: Eu me oponho ao referendo!
.
“Bem mal começamos e apareça a pomba da discórdia!”
Observa o Nojento, enquanto outros indagam:
Não é possível...
Assim não dá...
Quem ele pensa que é...

As vozes se intercalam
A palestra ganha ares de zona de guerra – reunião de condomínio
Ninguém pede silêncio, nem mesmo aparentam quer
Apenas um eu assiste à turba calado

Você pra cá, você pra lá...
E velhas amizades afloram rapidamente
Ao passo que inimizades agudas logo se aprofundam
E nisso a roda já está desfeita
E já se vão formando pequenos grupos

Minhas meninas, coitadas, correm para um canto
Meus guris irrequietos dão as mãos
Um eu adormece em resignação
O Velho descansa a cabeça sobre a bengala
Seus olhos vidrados refletem, tão somente, amores encarcerados
...

Foi-se o clima cordial, o desejo de auto-conhecimento
Sobram os vários blocos ouriçados contra-atacando
Num inassistível jogo de repetidas palavras
Que não tem fim, que não tem tempo
.
Então
Numa dada hora
Entra o Palhaço - olhos de melancia
Chega decidido a acabar com o furdunso
E distribui a cada eu um balão
E senta no colo daquele que odeia intimidade

Enquanto saboreiam seus balões coloridos
E alisam e trocam e furam e amarram e furtam
Vê-se flutuar um certo eu por detrás dos meus
Que sobe e sobe e fica olhando-os admirados
.
E o Capitalista imediatamente confabula: quem é este que voa sozinho?
Mas que pergunta boba – retruca o Palhaço
Aquele eu é o Poeta, como não o reconhece?
Deixe que vá tranquilo, está sempre a voar e a ver
O que nenhum de nós compreenderia em séculos

domingo, 11 de janeiro de 2009

Nova manifestação em defesa da Palestina

No próximo dia 14, quarta-feira, será realizada uma nova manifestação em solidariedade ao povo Palestino. Será às 10:30 horas , na Av. Tancredo Neves, em Frente às Torres Gêmeas, onde fica a representação diplomática dos Estados Unidos. Terá a participação do Cebrapaz, ACJM-Bahia, deputados e vereadores de vários partidos, representações partidárias, sindicatos, centrais sindicais, movimento estudantil, profissonais liberais, movimento social. Vamos fazer um esforço coletivo para que seja uma grande manifestação.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Noite Severina (Lula Queiroga e Pedro Luís)



Corre calma Severina noite
De leve no lençol que te tateia a pele fina
Pedras sonhando pó na mina
Pedras sonhando com britadeiras
Cada ser tem sonhos a sua maneira
Cada ser tem sonhos a sua maneira

Corre alta Severina noite
No ronco da cidade uma janela assim acesa
Eu respiro seu desejo
Chama no pavio da lamparina
Sombra no lençol que tateia a pele fina
Sombra no lençol que tateia a pele fina

Ali tão sempre perto e não me vendo
Ali sinto tua alma flutuar do corpo
Teus olhos se movendo sem se abrir

Ali tão certo e justo e só te sendo
Absinto-me de ti, mas sempre vivo
Meus olhos te movendo sem te abrir

Corre solta suassuna noite
Tocaia de animal que acompanha sua presa
Escravo da sua beleza
Daqui a pouco o dia vai querer raiar
Esclarecimento: escrevo com certa frequência e frequentemente encontro escritos esquecidos. Segue outro!


Comemora
Se vê fartura a tua frente
- Vê usura
Se sente tanta felicidade
- Sente necessidade
Se bebe o imo do fruto
- Bebe tudo

Ri teu riso sobre o abismo

Nega a dor
A dor venérea

E ama teus homens sem paixões
Sem canhões

A escuridão da mata vacila
Mas tu se manténs inteira

Ri
Pois a mesa está posta

Quanto a mim
Além de tratar dos descrentes
Cuido também dos amargurados

Pois riem de nós
Proprietários da impropriedade

Se vemos fartura
Vemos usura
Se vemos felicidade
Vemos necessidade
Se vemos o fruto
Vemos o imo

E tentamos amar o ignorante
E tentamos ressuscitar o amargurado
E tentamos não nos abater

Ri
Mas não nega que meu riso é transparente
Não nega que minha dor é venérea
Não nega que lutamos por razões diferentes

Ri
E continua

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009


Guerra de fim de ano,
de ano novo,
ao longo dos anos.
.
Vermelhas marcas no calendário,
sangue,
nos livros, nas mesas de reunião,
no desacordo,
nas faixas, nas insígnias, nos templos...
.
Guerra em tempo real,
os mortos aos vivos,
a dor ao silêncio,
a oração ao vento,
a poeira de volta ao chão.
.
Guerra da terra,
sobre ela o fogo,
água política,
ar de cataclismo.
.
E precipitam mísseis cifrados,
nos peregrinos,
nas escolas,
cabeças e tetos e buracos,
enfermeiras e fuzis e reações.
.
Crianças em Guerra,
o monstro faz-se ouvir,
são criadas, teleguiadas,
paus e pedras – estilingue de metal.
.
Guerra aguda,
histórica,
o sol não se apaga,
a sombra do muro se prolonga,
a morte amola os dentes.