quarta-feira, 28 de maio de 2008

Ciranda e Duelo (29/05/05)


Enfim
O Amor me chamou para dançar
De súbito aceitei
Estava só, a pensar
E numa valsa inebriante
Exauriu-me as forças tal amante
Não querendo mais me soltar

Então
Pediu-me uma dança a Paixão
De calor e beleza sem dimensão
Me mostrou o prazer de dançar
E me girou tanto
Que fiquei tonto
Já não sabia para onde olhava

Agora
Parado no salão
Olho
E não sei para quem caminhar
Sentimentos tão intensos a me cobiçar
O Amor não tem o calor da Paixão
Para me fascinar
E a Paixão não tem a firmeza do Amor
Para me segurar

terça-feira, 27 de maio de 2008

Saudações


Saúdo toda mulher
Capaz de me inspirar
Fazer de mim
Veículo de sentimentos
Uma folha solta no ar
A escrever uma trajetória
Sem idéia de destino

Saúdo toda mulher
Capaz de me amar
Fazer de mim
Instrumento de prazer
Um pincel rabiscando a tela
A desenhar um rio corrente
Sem desanimar no tempo

Saúdo toda mulher
Capaz de me escravizar
Fazer de mim
Utensílio doméstico
Uma marionete sorridente
A trabalhar durante 24 horas
Sem cansar ou pedir arrego

Saúdo toda mulher
Capaz de ser feliz
Fazer de si
Protagonista de folhetim
Uma adorada Deusa indígena
A traçar na terra Linhas de Nazca
Sem transparecer todo o dom

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Retirada

Reuni o bando
Pus fim ao ultimato
Entreguei o carralo
Pendurei os coro
Deitei o punhar
Vendi a papo-amarelo
Larguei o cangaço
Parto da caatinga
Vou buscar o bem-querer

Serei poeta
No litoral da Bahia
Encantarei com poesia
O povo daquela terra
Não esqueci das guerra
Dos tiro e do sol incandescente
Mas só bulo com gente
Pra entregar meus poema

Todos saberão
Dos perigo que se escondem
Nos confim sem nome
No sertão deste sertão
E também de sua beleza
Suas garças e tatu
De bichos como os teiús
Do inverno e da serração
Chega de fugir do mundo
Agora serei só um par de ói
Escrevendo como uma foz
O quanto que desferrei

Êita que vou falar das muié
Das moça dos cabelo cheiroso
De andar tão sinuoso
Que embola meu coração
Vou cantar em poesia
Essas coisa que não sabia
Por culpa do meu cangaço
Por farta de algum tempo
Sou poeta contumaz
A gota e virulento
Meu chamem de lazarento
Só a poesia me satisfaz

sábado, 24 de maio de 2008

Submarino (16/11/2005)


No meu quarto submarino
Eu me desminto
Jurando que nunca acabo

No meu quartel submarino
Não há destino
Apenas trilhas que abro

No meu cartel submarino
Tudo é lícito
Após ser dado o primeiro passo

No meu carro submarino
Avisto um caminho
Uma bica, um morro, um atalho

No meu coração submarino
Mora um menino
À espera de um abraço

Caqueiro


Ao jovem partidário, eu pergunto:
De que vale a primavera
Se as flores do teu sonho são invisíveis
Sem cores e luzes
Sem insetos
Sem pássaros
Se há grades em teu jardim
E os mendigos não podem cochilar
Se estudantes não namoram lá
Se você nunca trabalha a terra
?
Por acaso é botânico de ar?
Cheira o próprio pólen?
Cria espelhos em teu solo?

A vida dança em sua homenagem
Mas você estampa um sorriso patético
Todo o blefe do teu peito aleijado

Comprovará quanto de ti é humano
Quando o sol desmaiar em tuas retinas
E a juventude puxar o tapete de tafetá
Se resumirá a um caqueiro branco de canto
Enquanto para as minhocas
A vida estará desejando bom dia!

Me diga

Quem é Rosa?
Se não for
A flor da noite
A estrela preferida
Daqueles que bebem amores
E celebram o gozo
Com um simples toque
Beber não resolve
Eu preciso saber
Quem é Rosa?

(eu e Saulo Silva)

Convite ao acaso

Rosa cabelo black
Duas pérolas sob a testa
Emoldurando a boca de maçã
No colo, um corpo
Seguro e ávido
Desejo-o todo
Não a metade...
Do cheiro
Do negro corpo
Infinito e descalço
Mostra-me...
Toda divindade
Toda sua arte
Sua majestade nua
Crua carne
Toda lua
Noite cheia
Brilho
Da negra essência
Um sonho puro e calmo
Provável ou impossível!
Como o acaso!!!!

(eu e Saulo Silva)

Ser humano...

É também errar
Nem muito nem pouco
Errar
Na medida do possível

É reconhecer seus erros
Não muitos não poucos
Todos
Desde que possível

É voltar a errar
Muito pouco
E cada vez menos
Deixar de errar é impossível

So la mulata


Livros ao sol da manhã
Devolver-lhes a vida
Curar a rinite
Ter o prazer de respirar seus títulos
E assim é bom deitar na rede
Naquela varanda de canto
Ouvir os movimentos
O falar do livro e o gritar da mulata
A mulata que cruza a rua
É a mesma que cruza o livro
Cruza a idéia de livro
E assim não sei o que leio
Será o livro vívido ou
A mulata lívida
Pôr a mulata no sol é desnecessário
Pôr o livro é imprescindível
Mulatas intelectualizadas de sol
Livros ensolarados de mulatas
Pôr-me no sol
Como não banhar-me
Ao sol serei mais mulato

terça-feira, 20 de maio de 2008

O Cavalo Capitão

Na roça de Seu Murilo havia um cavalo chamado Capitão
Era todo tordilho, 8 palmos de altura, inteiro e muito rufião
Não aceitava montaria devido a sua péssima criação
Quem ousasse subir de atrevido, ele logo picava no chão
Só queira saber de amar as éguas, era o maior garanhão

Quando passava um vaqueiro montado numa égua no cio
Capitão danava a relinchar, virava o cão, o curtipio
Pulava quantas cercas houvesse, derrubava o peão arredio
E empurrava na bichinha, quase causando um estropio
Só largava da danada quando descarregasse o fiu

Certa feita, quando Capitão derrubou mais um montado
Deu o azar de derrubar logo o malvado do Seu Deodato
Homem mais ranzinza do mundo, que ficou doido varado
Disse que ateava fogo no pasto se não visse o bicho capado
E Seu Murilo, de coração partido, teve que fazer o mandado

Caparam Capitão e a sua tristeza foi tanta que ficou só o couro
A crina caiu, os olhos remelavam, passa o dia defronte ao bebedouro
Chamaram veterinário e benzedeira, mas nada ajudava o morredouro
O cavalo não reagia e, ao passar dos dias, mais aumentava o agouro
Seu Murilo, que o amava, esperava um milagre feito um tesouro

O milagre veio de forma diversa, no dia que apareceu Seu Deodato
Capitão reconheceu a bela égua, naquela hora o desenganado
Reacendeu o pavio e partiu pra cima dela feito louco alcoolizado
Coiceou o velho, pongou no lombo da equina, socando o atrasado
Mas o abafamento foi tanto, que acabou pondo no buraco errado

Depois do trabalho pronto, Capitão não conseguia desenganchar
Seu Deodato gritava como se no lugar da égua ele pudesse estar
Jogaram água, soltaram bomba, mas só no canto da coruja foi soltar
Nessa altura, o cavalo já estava nas últimas, nem conseguia respirar
Deitou embaixo do juá, soltou uma boa bufa e morreu sem reclamar

Acabou-se o cavalo Capitão e suas histórias de grande cruzador
Não respeitou buraco, pegava égua tanto de peão como de doutor
Foi injustamente capado por culpa daquele velhaco senhor
Mas deu a volta por cima, reencontrando a égua, seu grande amor
Passando-lhe o vergalho e morrendo como um grande reprodutor

Página (2007)

Aquela página amarela
Guardada na gaveta velha
Do armário de minha Mãe
Disse-me tantas palavras e canções
Um tempo e recordações
De sonhos que não vivi
Perdi nos tropeços da vida
Alguns sorrisos...
Que deixei de sorrir
Ou Talvez não tenha chorado o suficiente
A ponto de partir...

Eis que viro a página
Encabulado das respostas que tive
E ao verso submeto esse olhar
Como quem espera novo deslinde
Já sem as lágrimas, humilde
Já com rugas, sensato
Para ver orvalhar feito cristais em grusa
A frase de um homem calejado
Dirigindo-se aos velhos viventes
Aos quais dedica seu mais puro amor
"Não me reduzo aos seus critérios!"

(Saulo Silva e eu, respectivamente)

Copa de árvore

Às vezes
Somos tomados por sensações
Que não são nossas
Postos a falar sobre coisas
Que não sabemos
A chorar lágrimas
Que não temos
A ouvir vozes
Que não existem

De onde partem
Essas sugestões sem explicação
Que nos tocam o sentimento
Feito um alisar vagaroso
Um sorriso afetuoso
Um soprar de sopros
E que nos leva de plano?

Talvez sejam apenas nós
Nos chamando com delicadeza
Acenando da vastidão
De onde desviamos o olhar
Ou algo em nós
Que carece de cuidado
De um pouco mais de atenção
Resguardados sob os dias
Podem ser um feto
Reclamando o nascimento
Choramingando baixinho
Com suas últimas forças
Acredito que sejam o todo
E também o nada renovado
O excesso e a falta
Um sinal em nosso espírito

Farinha


I.
Queimei a mão no pão
O pecado me é tão inerente
Que nem a farinha de trigo
Quer meia comigo

Sou da farinha de mandioca
Amarelada no dendê quente
E nunca queimo a língua
Porque aqui não há pecado

II.
Queimei a mão no pão
E o pecado é tão deleitoso
Que agora chupa meus dedos
Uma louca pintada de branco

Encho a boca de farofa de dendê
Mostro a língua quente ardendo
Mas ela não quer chupá-la
Pois Oxum disse: não há pecado!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Cidadão da Mata (Baiano e Novos Caetanos) SENSACIONAL


Meu rancho de palha
Meu campo de malha
Um rosto na talha
E a chuva na cara

Cidadão da mata
Eu sou
Cidadão da mata
Eu sou

A água na lata
A mesa tão farta
Perdido na data
Achei-me na mata

Cidadão da mata
Eu sou
Cidadão da mata
Eu sou
Um touro na raia
Um potro na baia
A gente não vai
Qualquer um que caia

Cidadão da mata
Eu sou
Cidadão da mata
Eu sou

Meu cão, minha gralha
A minha pirralha
Meu pão minha tralha
E um velho que malha

Cidadão da mata
Eu sou
Cidadão da mata
Eu sou

Meu rabo de saia
Comigo na praia
Mais se o dia raia
A gente trabalha

Cidadão da mata
Eu sou
Matador da vila
Não sou
Não sou...

Amo, amo a mata
Porque nela não há preços, amo o verde que me envolve
O verde sincero que me diz que a esperança, não é a ultima que morre
Quem morre por ultimo é o herói
E o herói, é o cabra que não teve tempo de correr...
Arri, se num me avisto com algo estranho.

De que falas-te ser in-humano?

Que sonho seria de tal criação, se tal criatura se lembrasse então?
Cabelos aos longos em muita disputa,
um processo intenso, que gera estufa.

[Pra que todos entendam os na querela envolvidos, melhor seria não lhes dar ouvidos.]

Como seria uma macaca gordinha, se tem braços e pernas de uma galinha?

Ora, mas que maldade da sua parte, no seu caso é inveja - verdadeira arte. Não percebes a cegueira de todos pensando, é muita luz nos ofuscando. Nesses casos, mantenhamos o silêncio exigido, fechemos os olhos num breve sorriso; se faltaste gosto para tal ação, conserva-te imóvel em imaginação.

Ora digo eu, Buda invertido, aparecestes agora de Jesus envolvido... hunf...ousadia me ousa que posso dizer? falamos de todos pra nada fazer.

Se queres fazer faça o esperado, sem rodeios mesquinhos, faça o inovado.
Debruça-te diante da esfinge apresentada, na esperança de fugirdes, Édipo, a hora fadada.

Certo, sujeito-Bíblia, vai admoestando às rugosidades do caminho, quem sabe quando cansar-me de rir lhe darei um ombrinho. Mas para que pare com tantas asneiras, apresento a minha versão em moldes de bagaceira.
A charada é simples sem complexidade, é uma fábula antiga de alguma parte.

Refere-se a um algo possível daquela mente em processo expansivo. Diante dos deslumbres da sua visão, o mundo é mais absurdo que pensava então.
Imagine um ser envolto em pureza, despido de pelos, em sua mais pura clareza. Diacho seria, Se não uma batata quente, melhor diria, um problema premente.
Mas então debaixo dele se vê a mais pura consciência, de que a pureza é uma perversão da mais pura leveza. Não há má consciência em suas novas emoções, pois a vida é uma leveza em suas inúmeras estações.
Não seria outra coisa - sua mente imaginando - que no palito vejo a vida e a morte macaqueando, ou melhor, se equilibrando.

(George Diniz)

sábado, 17 de maio de 2008

Orquídea do Atacama


Ontem voltei a atuar
Me fiz de desentendido
Como se não houvesse ali
Uma orquídea do Atacama

Incorporei a “persona” míope
Interessado por outras moças
Fracionando sua beleza
Ao cruzar dos corpos sem graça

Assumi um heterónimo
Aquele que flerta com loiras
E delas passei a ocupar-me
Exercitando trocadilhos e rimas

Mas no peito do meu âmago
Meu Eu só olhava para você
E eu evitava ouvir seu bramido
A paixão que suplicava

Esforço em vão
Quando me pus na cama
Por você devaneei
A cordilheira açucarada
Corpulenta de pacto com a maciez
Pousada nua no horizonte
Rindo para mim seus olhos
Os lábios carnudos acesos
Os seios amamentavam o vale
E seu cheiro perfumava
Me aproximei extasiado
Parei diante de uma dádiva
Cheirei seu nariz e pescoço
Sua veia pulsava
Mordi sua face e adormeci

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Beco da Rosália



À você que nega o recitar
Entenda que ser poeta
Não é somente escrever
É também exteriorizar
Entre soluços e risos
Entre beijos e passos

Quero ver-me declamado
Nas bocas dos analfabetos
Nos colapsos dos epiléticos
No tinir dos copos
E em tudo mais que valha

Não me importo em ser deturpado
O formalismo jaz como o casamento
Gritem com o coração
Interpretem de cabeça para baixo
Mas cantem esse poema

(Acabo de declamá-lo no Beco, pelo que fui muito aplaudido, e a pouco o escrevi, em resposta a um cara que disse: poesia deve ser lida, declamar é matar o poeta, já dizia Mario Quintana.
Receba churumela!!!!)

domingo, 11 de maio de 2008

?

Aqui não se funda a poesia
A literatura ou a arte
Aqui se funde a vida
O candomblé e o índio
O pensar e o fazer

Acabo de acordar de um sonho
Nele eu era uma batata
Gorda e cabeluda
Como uma velha macaca
Embaixo do Monte Sinai
Sobre um palito de fósforo

As explicações são suas
São suas palavras sobre as minhas
Faça poesia
Interrogue-se
Divirta-se

Bruta flor

Hoje não quero mais nada
Apenas guardar minha paixão
Deitá-la ao meu lado na chuva
Dizer-lhe ser sol e ser açúcar
Sendo assim não serei breve
Perpétuo e animado e cantar a paz

Hoje não quero mais nada
Apenas ser um coqueiro
Pender-me em frente ao vento
Ouvi-lo ser som e ser céu
Estando assim não serei breve
Flutuante e oceânico e ventilar a paz

Hoje não quero mais nada
Apenas ser sabiamente feliz
Girar feito pião na palma da mão
Ver-me ser luz e ser alucinação
Permanecendo assim não serei breve
Verde e forte e beijar a paz

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Vida de alma


Estou aqui
Esperando o corpo
Espectro ansioso
Parado na pista
Ele não passa
Os carros transpassam
Este é meu destino
O tempo inexiste
Tenho a eternidade
Mas estou ansioso
Não sei onde está
Me sinto perdido
Fico parado
Não saio do lugar
Rodo e rodo
No mesmo ponto
Não um ponto de ônibus
Um imaginário
Mas o corpo é real
Quente e forte
Longilíneo
Eu o espero
Para sempre
Como ontem
Sou espectro
Não sinto fome
As pernas não doem
Apenas sede
Apenas ânsia de vida

Gás do riso


Minha poesia me faz oceano
Acende a alegria pura e simples
Deixa amante o ingênuo curumim
Transforma tempestade em romance

A cada sílaba que descrevo
Clareia em mim um alarido
Sou levado a chorar de contente
Ao invés de rir do baldado tédio

Encontro comigo neste espelho
E passo séculos me admirando
Ao ver um sujeito fora de época
Falar de si com o coração tamanho

Recitarei o invólucro e o magma
Cada grão e cada fluxo e cada ruga
Para absorver da energia oriental
A alegria mais simples mais pura
Olhar Profundo, aponta uma mente circunspecta,
diria estar num querer de falta de vontade;
O que alimenta minha cólera? Interrogando-se-ia ele.
Colérico, escarra mundo afora, virulando a tudo,
num imenso tropeçar.

É muita vontade de não-contrariação?
Mas que necessidade de triunfo é essa,
pergunta-se de si para si,
fruto de uma reflexão posterior.

No ato um embaraço;
se envergonha e se aflige.
Não mais quer;
Não mais ousa;
Não mais exagera,
se ar pletórico afunda-o;

Sua natureza emerge e assombra-o
com tamanha verdade:
Não mais pode negar-se;
Não mais pode fingir.

Cede, acusando-se de tamanho infortúnio.
A melancolia assalta-o tomando-lhe a bastilha;
Já não quer mais resistir, e de fácil combate
a tristeza se apodera.

Deveria mergulhar-se, eternamente,
na reificação do constrangimento?
Tal trabalho à memória não escapa,
mas é preciso digerir, alguém lhe diz,
mas quem?
Alguém.

Mais do que a aflição de não ter ido até o fim,
prefere a estupidez da conclusão,
então a dor de um irmão!

(George Diniz)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Girassóis


Enfrentamos o período mais incerto
De reconstrução da infância
E delineamento da vida adulta
Ávidos pela certeza, sem saber

São cobranças por parte da família
São sonhos cristalizados na adolescência
São novas possibilidades a cada dia
Pairando em nossa órbita juvenil

Neste imbróglio, queremos fazer o futuro hoje
E quanta responsabilidade nos pesa
Perdemos tempo enquanto pensamos?
Perdemos chances enquanto erramos?

Precisamos de calma na cinza das horas
Aquela paciência que nos falta espontaneamente
Sem perdermos da mente o que diz o poeta
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”

Só temos um destino nesta vida física
Seguir, guiar, partir, prosopopeiar
Se soltar na força do movimento oscilante
A caminho do azul horizonte espremido

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Saia de mim (Arnaldo Antunes)


Saia de mim como suor
Tudo o que eu sei de cor
Sai de mim como excreto
Tudo que esta correto
Saia de mim
Saia de mim

Saia de mim como um peido
Tudo o que for perfeito
Saia de mim como um grito
Tudo o que eu acredito
Tudo que eu não esqueça
Tudo que for certeza

Saia de mim vomitado,
Expelido, exorcizado
Tudo que está estagnado
Saia de mim como escarro
Espirro, pus, porra, sarro,
Sangue, lágrima, catarro.

(Mano, esse rock é loco)

Venha me buscar

Teu sorriso é um convite
Assim desejo tocar-te
Abeberar-te
Mulher em dança
Sob dois olhos de cor
Tons de reflexo e brilho
Nesta lua cheia
É mulher para ninguém
Ama de sonhos
Queria saber portar-me em tua presença
É mariposa leve como uma valsa
Na qual a teria mais bela
Esguia, de um braço ao outro
Enquanto cheirava teu pescoço
Cheiro-a em pensamento
E a contento, vislumbro beijar teu dorso
Ah camaleoa
Queria eu fazer-te um poema
Dizendo te querer, possuir-te
Pena ser frouxa minha pena
Ao ponto de te decifrar
Sentado em minha mesa
Admiro teu rosto, tua alegria
Queria eu tomar-te num lance
Tocá-la, senti-la, amá-la
Vez que é o melhor da vida
Adoçar-se de suor em teu leito
Quanto desejo possui este desabafo
Seria homem para sempre
E foi só uma noite
E sempre será do meu subconsciente
Cativa bailarina do meu verso
Musa que cerca minha lira
Afoga-me em minha poesia
Faz de mim o mais platônico dos poetas
Este enlace não será à toa
Hei de render-me qualquer prazer
Sendo pouca a minha folha
Sendo maior o meu padecer
Te espero num próximo acaso
Longe do certo
Noutro momento qualquer
Para outra vez figurar tua beleza
Para glória deste admirador de você

(Este poema forçou sua postagem)

Obs. 30 de setembro de 2008: este poema nasceu, escorregou da minha cabeça à minha mão, passando pelo peito, mais precisamente pelo coração. Por isso forçou sua saída, era ele ou eu!

Aiai!


Nas barbas do facheiro chia o vento
Nasce o pai da caatinga
E a fome chocalha seu bote
O olho remela pro sul
Numa triste jornada
E queda na terra rachada
O açude virou tanque
O tanque virou poça
E a poça virou buraco escuro
Não se vêem insetos
As feridas estão secas
E o sangue não presta para chupar
O ar seco chuta os ossos
As peles de fecham silenciosas
E o barro apara o cabelo
O cão, o cão morreu
Morreram os bichos novos
E os velhos espreitam as nuvens
O futuro é barrento e oco
Esse presente não quer abrir
E do passado não há lembrança
Ao Senhor rogo, ao Senhor peço
Prece de mil anos, ária árida
E cansei de me redimir
O redemoinho é um bom sinal
Fé Nele que o tempo melhora
E é noite fria e cintilante
O nada em tudo se fez
Sem choro, sem fome, sem saudade
E adormeço imaginando a trovoada
Derradeira feito vaca leiteira
Coando o chão esturricado
E vem do alto e cai forte
Um maciço manto molhado
Pregado nos quatros cantos do céu
E fica caminhando sobre meu casco
Seguro um bocado no meu chapéu
Tem o cheiro do mel, o brilha da cobra
E já vejo peixes de todas as cores
Aiai! se morrer, quero ser água
Cristalina, gelada e doce
E subirei pelos pés-de-pau!