quarta-feira, 18 de junho de 2008

Alheio adeus


Incrédulas
Acompanham a descida do teu caixão
Tapado
Não choram
Te velaram pela madrugada
Foram-se as lágrimas, as forças
O Pesar retirou-lhes a postura
Os olhos se movem sobre ti
Simplesmente te imaginam
Morta de blazer rosa e coberta por outras
Viva, cantando Bossa
Paradas, como um só corpo
Vejo tua filha, tua neta, tua empregada doméstica
Abraçadas, desoladas, são tua familia
Aquela que admiravas e celebravas
Já não haverá festa no dia de teu aniversário
Nem fofocas no almoço envolvendo teus antepassados
Nem o bolo de laranja coberto com chocolate, tuas panquecas
Contigo foi boa parte de ti
Outra nunca apagará
Outra repousa nesse caixão
Ornado com uma linda coroa de flores amarelas, tuas prediletas
Agora apagado no fundo do túmulo
Onde repousam teu marido e teu irmão
E logo chegará tua filha, tua neta
Tua empregada doméstica será enterrada longe
Lá no interior de onde vieram vocês duas

2 comentários:

Pablo disse...

Porra!!
Extasiante!!
Me amarrei na contradicao no "ser familia" da empregada, que parece que escorrega pra dentro do texto, porque não fazia parte do tema, mas é de uma natureza tão enrazada e absurda na familia de clase media alta brasileira que nao pode ser omitida.

João disse...

graças a deus tu voltastes meu senhor, tua palavra me acalenta e tua presente me anima. ave misere!