A Torre impressionava à distância
Lá do alto era possível ver a curva da terra
A mais privilegiada contemplação do mundo
Alimentada pelo uivo do vento ininterrupto
Nela alguns experimentavam a segura solidão
A capacidade de ausentar-se de tudo
E ao mesmo tempo manter-se presente
Encontravam a si – sentiam o auto-conhecimento
Enquanto outros reconheciam seu poder -
A possibilidade de avistar os rebanhos longínquos
De observar o céu com maior nitidez
De antever um ataque inimigo
Não havia vivente que ignorasse a existência da Torre
Que não quisera saborear o gosto de ser seu ocupante
Mesmo que fosse durante a passagem de uma tempestade
Era ela o máximo do sonho, a mais alta estrela
Tolo foi aquele que pensou e tentou monopolizá-la
Que lutou aos seus pés para ser o único a usufruí-la
Pois era preciso deixá-la para conseguir água, lenha e comida
E ninguém suportava descer e subi-la num único dia
Mesmo assim, a cobiça à Torre cegou muitos homens
Não percebiam o feitiço ideal que carregavam
Imaginavam-se Senhores da Torre, Donos do Saber
Mas não passavam de servos em nome de um ponto de vista
Mortes aconteceram, tragédias se sucederam
E as gerações se seguiram ao redor da bela construção
Aos seus pés nasceu a Cidade da Torre
E adoptaram o Homem da Torre - seu guardião
Este gozava de prestígio e poder
Era quem determinava quem e quando poderia subir ou não
Bania da Cidade aquele que lá errasse
Como também, aquele que não o agradasse
O Homem da Torre não era só satisfação
Sofria o desassossego de ser caçado
Aspiravam matá-lo, aspiravam possuir seu mando
Mais do que a vida noutro canto sem disputas
E foram nomeados os Protetores do Homem da Torre
E Leis foram criadas para punirem os assassinos
E Prisões foram erguidas e ampliadas
E foi decretada a Pena de Morte
A desumanidade estava, então, enraizada
Os homens temiam uns aos outros
Não mais existia a glória de admirar a terra e a si
Havia sim, a batalha pela soberania sobre os demais
Mas nada na terra dura além de certo tempo;
Foi após tremer o chão que a Torre desabou sobre a cidade
Levando a morte à grande parte da população
Espalhando o desespero, a incredulidade
Muitos criam ser um sinal dos Deuses
Outros acreditavam no acaso - na natureza
Fato é que aquele povo perdera sua maior referência
Inegavelmente, encontrava-se perdido nos escombros
E à medida que as coisas se reestruturavam
Que casas eram refeitas e pessoas eram curadas
O povo da cidade retornava à sua rotina atroz
Já que era suficientemente obtuso para viver de outra maneira
E muitos anos depois, no afã de encontrar uma pista
Que indicasse qual a origem da afamada Torre
Um jovem começou a escavar suas ruínas
A despeito das pragas lançadas contra ele pelos anciãos
Após cavar vários metros e alcançar o alicerce da obra
Tal jovem defrontou-se com a desgraça e a explicação
Pois estava talhado na superfície da rocha
Que manteve a Torre de pé ao longo dos séculos:
A Torre não servirá ao homem, a altura o cega e escraviza;
Servirá aos homens, para ensinar-lhes que nada na vida
É tão grande que não possa ser igualmente repartido,
Assim me foi passado por Ardag Tuynev.
terça-feira, 31 de março de 2009
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Um comentário:
gostei dessa, me lembra Umberto Eco e seu fascinio pelos mitos da antiguidade.
yeah, saudades suas seu safado
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