terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O muro


Um livro me comeu
Enjaulou-me num conto do Pós-Guerra
Em plena Ditadura Militar Espanhola
Fui seqüestrado, levado ao Centro Inquisitivo
Espancado, difamado, intimidado, despido
Largado no porão frio com três estranhos
Uma pilha de carvão nos fazia companhia
O tempo corria por um buraco no teto
Enquanto aceitava a morte o outro se urinava
Medo das balas dilacerando sua carne trêmula
Duas sentinelas amolavam o dedo no gatilho
O frio doía meus ossos, no entanto eu suava
Imaginava minha história, a vivida e a idealizada
Colocaram-me contra a parede, pediam o endereço
Com a vida em jogo, entreguei o esconderijo improvável
Fuzilaram meu amigo no cemitério, onde havia indicado
A sorte me sorriu com seus dentes negros
Retribui-lhe numa gargalhada que tirou lágrimas
Culpar-me seria admitir o impossível, impossível
Ganhei a liberdade enquanto conversava no pátio

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