quinta-feira, 13 de janeiro de 2011



nesta tarde fria de inverno norte
cheia de ventos bandidos
de neve seca
de esquilos trêmulos
e sem pássaros

não me bastou o calor do casaco
do bolso úmido
do cachecol felino
tampouco o carinho da flor eterna
de queixo encaixado em meu ombro
irresponsavelmente apaixonada

em meio a estas pessoas coloridas/pintadas
tão diversas quanto as posições sexuais
e quase sempre caladas
e quase sempre apressadas
e pressionadas pelo tempo dividido
cegas de mim e em mim aprisionadas
recorro a um momento

precisamente
renasço na preta da cozinha
calada, apressada, pressionada, dividida
mas que mirava no fundo da panela quente
como no seio virgem
o sorriso do menino faminto e molhado pelo banho

sinto o fogo por debaixo da frigideira
o calor escapando pela beirada das tampas equilibradas
e aquela dedicação de mãe de cria
cuja mão descansada nos quadris
e olhos permissivos embassados pelo tempo
simbolizavam a hora do almoço
e me faziam encher a boca d'água

meu interior se aquece, ensolara
se faz importante e abafa as grifes, a gripe, a crise
e me refogo no cuidado e força boa da vida
numa memória pequena
superior ao i'm sorry de qualquer chinês

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