quarta-feira, 28 de julho de 2010





Quanto custa este livro?
Está sujo
Se desfazendo
Cheio de riscos, rabiscos
Até uma declaração de amor...

Mas não pode custar tanto?!
As letras vão sumindo
A Capa não diz nada
Arrancaram-lhe o prelúdio...

Por que eu o quero?!
Sinceramente?!
Em nome da nossa amizade?!
Porque seu maltrato é sinal de beleza
Queria eu envelhecer como ele
Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.

Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.


(Hilda Hilst)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

boca-pio




Tártara boca

Rota

Além da curva a força

Solta

Em verbos de carne

Arde

Saber e sede estanque

Tanque

De lava sobre a mesa

Beba

E cada fino extrato

Farto

Da cega flor da noite

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